out 022014
 
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Calorosa recepção aos “peixes voadores” em Lins, 1949

Poucas pessoas se lembram, infelizmente, dos “Peixes Voadores” que visitaram o Brasil. Foi em 1949, e os quatro japoneses vieram após se apresentarem nos Estados Unidos e terem vencido quase todas as provas contra os competidores americanos, uma façanha para a época, e à frente do grupo estava Hironoshin Furuhashi, nascido em 1928. Como Furuhashi treinava no Tobiuo Swimming Club de Tóquio, e “tobiuo” significa “peixe-voador”, os americanos batizaram os nadadores japoneses de”Flying Fish”.

Terminada a guerra, atletas de ponta do Japão, de diversas modalidades, não conseguiam verba em seu país para as despesas de viagem para competições oficiais. Por isso, programavam exibições fora do país, levantavam alguma verba e mostravam que o Japão estava se reerguendo e que tinha atletas de nível internacional. A coletividade nipo-brasileira participou de diversos casos semelhantes, fazendo campanhas e arrecadando doações para esses atletas. No caso dos “Peixes Voadores”, sabe-se que ficaram dois meses na América do Sul, passando por São Paulo, Lins, Rio de Janeiro e outras cidades.

Hironoshin Furuhashi bateu seis recordes mundiais em 1948 e 1949, mas não pôde disputar os Jogos Olímpicos em 1948, pois o Japão, penalizado como culpado pela Segunda Guerra, teve que ficar de fora. Nos jogos de Helsinque, de 1952, infelizmente, Furuhashi competiu, mas não estava em plena forma.

Os “Peixes Voadores” trouxeram uma nova luz à sofrida coletividade nipo-brasileira. Se apresentando no Estádio do Pacaembu, foi a primeira vez que a bandeira japonesa era hasteada oficialmente após a guerra. Os ídolos japoneses foram aclamados em todos os lugares que se apresentaram. Na cidade de Lins, passearam em carro aberto e foram recebidos com aplausos e bandeiras japonesas. Outra consequência dessa visita dos nadadores foi a ascensão do nissei Tetsuo Okamoto na modalidade.

O garoto franzino, que tratava de bronquite, treinava no Yara Esporte Clube de Marília. O pai de Tetsuo era sitiante na cidade vizinha de Vera Cruz e não tinha condições de manter seu filho treinando num clube de elite. Mas o garoto era bom e seu talento foi reconhecido pelos dirigentes do clube. Aos 15 começou a treinar no Yara, e aos 17 pôde acompanhar os “peixes voadores” em sua viagem pelo Brasil. Foi a sorte. Ouviu dos japoneses a preciosa dica que mudou a vida do nadador. Eles recomendaram que Tetsuo treinasse nadando 10 km todos os dias, enquanto o técnico do Yara exigia apenas 1 ou 1,5 km, pois tinha receio de forçar a capacidade dos garotos. Tetsuo era um dos mais frágeis, tanto é que seu apelido era “Tachinha”, por ter um corpo fino e a cabeça muito grande.

Pódio em Helsinque, 1952: Hashizume, Konno e Okamoto. Três países diferentes, mas todos com cara de japonês.

Pódio em Helsinque, 1952: Hashizume, Konno e Okamoto. Três países diferentes, mas todos com cara de japonês.

Treinando com afinco, Tetsuo Okamoto brilhou nos Jogos Pan-americanos de 1951 em Buenos Aires. Ele venceu nos 400 m e nos 1.500 m, sendo este um recorde sul-americano. Voltando a Marília, ele foi recebido como herói, com palanque montado na praça da cidade. No ano seguinte, 1952, viria o confronto com os seus mestres japoneses, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, na Finlândia. Dos quatro “peixes voadores”, três estavam representando o Japão. Aqui, uma grande surpresa nos 1.500 m livre. Ford Konno, um nikkei americano chegou na frente, superando o “peixe voador” Shiro Hashizume que ficou com a medalha prata, enquanto o nikkei brasileiro, Tetsuo Okamoto, conseguiu a medalha de bronze, inédita para o Brasil. Tetsuo havia superado dois de seus mestres “peixes voadores”.

Hoje, dia 2 de outubro, completam exatamente sete anos do falecimento de Tetsuo Okamoto, que tinha 75 anos de idade. Depois da gloriosa conquista, Tetsuo foi estudar nos Estados Unidos, onde continuou competido como representante da universidade. De volta ao Brasil, empreendeu como fazendeiro de café e na empresa de prospecção de poços artesianos.

Quanto a Hironoshin Furuhashi, foi presidente do Comitê Olímpico do Japão por dez anos, até 1999, e trabalhou muito para que o país sediasse os Jogos Olímpicos novamente (os anteriores foram em 1964), o que irá ocorrer em 2020. Furuhashi faleceu em 2009, num hotel em Roma, onde acompanhava o campeonato mundial de natação.

Veja: entrevista exclusiva com Tetsuo Okamoto

O jovem Affonso Penna em 1949

O jovem Affonso Penna em 1949

Affonso Penna-jornal dos sportsSobre a passagem dos “peixes voadores”, lembra o engenheiro Affonso Augusto Moreira Penna, bisneto e homônimo do presidente da República na época da chegada do Kasato Maru (1908): “Eu nadava, como atleta de competição, pelo Fluminense F.C. Estávamos em abril de 1949 e eu tinha 14 anos de idade. O Fluminense recebeu a honrosa visita dos “peixes voadores” japoneses, que já tinham brilhado nos Estados Unidos. Vieram ao Brasil: Hamaguchi, Murayama, Furuhashi e Hashizume. O nosso técnico Hélio Lobo colocou-nos sentados, sobre a borda da piscina, para observar o treinamento dos “peixes voadores” e como eles faziam a “puxada” da água. Após observá-los baixei meu tempo, nos 100 m “crawl”, em mais de 1 seg”.

No “jornal dos Sports” do Rio de Janeiro de 09/04/1949, constam os resultados da competição criada para a visita dos “peixes voadores”:
 – na 5ª prova – Regional (carioca) – Aspirantes (última categoria infanto-juvenil) – revezamento 3×50 m (3 nados – costas, peito clásico e “crawl”) – a equipe do Fluminense do “crawl”, formada por Affonso Penna e seus colegas, triunfou sobre as do Tijuca e do Botafogo, entre outras.
– na 6ª prova – Internacional – 200 m – Adultos – nado livre (“crawl”) – Hamaguchi e Murayama foram os primeiros;
– na 7ª prova – Internacional – 400 m – Adultos – nado livre (“crawl”) – Furuhashi e Hashizume foram os primeiros;
– na 8ª prova – Interestadual – Adultos – revezamento 4×50 m nado livre (“crawl”) – em primeiro lugar chegou a equipe do Rio de Janeiro. Em 2º lugar a equipe do Yara Clube de Marília onde já aparece o nome do grande nadador nikkei Tetsuo Okamoto.
ago 242013
 

“Somar esforços para superar dificuldades”. Seguindo esse lema, várias iniciativas ligadas ao cooperativismo surgiram no início do século 20 em nosso país. Essas entidades prosperaram durante um período, ajudaram os agricultores, disseminaram conhecimentos, facilitaram a comercialização e expandiram as fronteiras produtivas. Embora saibamos que as duas maiores cooperativas fundadas pelos japoneses cerraram suas portas ainda no século passado, não quer dizer que o associativismo tenha fracassado. Existem atualmente 22 cooperativas agrícolas fundadas por nipo-brasileiros, e para elas, o modelo tem funcionado satisfatoriamente.
O engenheiro agrônomo Isidoro Yamanaka, que atuou no intercâmbio agrícola entre o Brasil e o Japão, trabalhando no Ministério da Agricultura, onde coordenou o desenvolvimento do cerrado e sua irrigação, defende a ideia de que o associativismo (cooperativismo, sindicalismo e outros) pode e deve ajudar o agricultor a se enriquecer, desde que tenha um foco bem definido e buscando, na medida do possível, o mercado externo. “Sozinho, o pequeno agricultor não tem poder de negociação e nem será atendido pelas autoridades, mas em grupo, a força é bem maior”, explica o engenheiro, que falará sobre Associativismo no 4º Encontro Bunkyo Rural, que acontece nos dias 13, 14 e 15 de setembro de 2013, em Mogi das Cruzes.
Curiosamente, as cooperativas e os sindicatos puderam começar no Brasil por força do Decreto nº 1637, de 5 de janeiro de 1907, assinado pelo presidente Affonso Augusto Moreira Penna, o mesmo que comandava o País quando o Kasato Maru atracou em Santos, trazendo os primeiros imigrantes japoneses.
Maiores informações sobre o 4º Bunkyo Rural, veja no site.