set 212023
 

Missão de empresários de Okinawa em São Paulo.

Desde o ano fiscal de 2012, a JICA tem enviado missões para o estudo e prospecção de negócios de empresas japonesas. Entre os dias 2 à 7 de outubro de 2023, oito empresas, todas de Okinawa, estarão prospectando oportunidade de negócios no Brasil, onde farão visitas técnicas, além da realização de seminário e rodada de negócios em São Paulo.

O Brasil já sediou o evento seis vezes. As empresas são de diversos setores, não só da agricultura, e estarão abertas a conversas com empresas brasileiras para uma futura parceria comercial.

No dia 4 de Outubro de 2023, será realizado o encontro de empreendedores Brasil-Japão, com a apresentação das empresas na Japan House (Av. Paulista 52, S.Paulo). Das 10 às 12 horas – Seminário, e das 13h30 às 17 horas, Rodada de negócios. As nove empresas participantes são essas:

  1. EF Polymer – fabricante de polímero para uso agrícola totalmente orgânico.
  2. K.K. Thomas Technical – forno de incineração de pequeno porte com baixa emissão de poluentes.
  3. HPC Okinawa – Produtos à base de concreto ultrafino com tecnologia HPC
  4. Ryux – Tecnologia de uso de cinzas de combustão da biomassa na agricultura e na pecuária
  5. Kanehide Research – 11 empresas do grupo atuam nas áreas de comércio, construção, supermercado, bioempreendimentos, resort, etc.
  6. Okinawa Image Center – área de produção audiovisual
  7. Cooperativa de Atacadistas de Frutas e Verduras – importação de frutas e legumes
  8. ANDESfarm – plantas de folhagem e flores para paisagismo, horticultura.

Detalhes das empresas no anexo:

informativo JICA 0_perfil das empresas japonesas

Os interessados na rodada de negócios deverão fazer inscrição até dia 28/9: https://forms.gle/sponKeieewbJmTEz8
Vagas limitadas

out 082022
 

Depois de dois anos impedida por causa da pandemia, a JICA autorizou, no segundo semestre deste ano, o envio de bolsistas de diversas áreas ao Japão. Agora, estão abertas as inscrições para os candidatos a bolsa para o primeiro semestre de 2023. 

Quem estiver interessado é bom começar a correr porque são vários documentos e formulários para providenciar, e as inscrições vão até o dia 1º de novembro de 2022.

Bolsa de Treinamento Nikkei: Tem como objetivo selecionar os recursos humanos aptos a se dedicar no futuro, às pesquisas ou treinamento técnico nos setores que exijam conhecimentos especializados através de treinamento no Japão.

O treinamento visa a aprendizagem de tecnologias avançadas e conhecimentos mais recentes, preparando profissionais capazes de contribuir para o desenvolvimento da sociedade nipo-brasileira e da sociedade regional às quais pertencem.

Período de Inscrição: 20 de setembro a 1o de novembro de 2022.

Data de entrevista: 05 a 16 de dezembro de 2022.

Programa de Treinamento para Nikkeis 1o Semestre de 2023

Vale a pena dar uma boa olhada na lista de cursos, que são muitos, todos os anos há alterações, e alguns cursos são de curta duração. Acesso ao link : 
jan 212020
 
A JICA – Japan International Cooperation Agency, está programando a sua 6ª Rodada de negócios Brasil-Japão, que será realizada em São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte. Em São Paulo, será na FIESP, no dia 04 de fevereiro de 2020, com tradução simultânea para o português.
 
Dia 04/02/2020 – Auditório da FIESP – Av. Paulista 1313 – metrô Trianon Masp
14h – Abertura e mensagem das autoridades
– Apresentação da JICA
– Apresentações das empresas japonesas
– Networking
– Matchmaking
19h – Encerramento
Participam da rodada os diretores ou proprietários das empresas, e eles querem investir, formar uma parceria para o negócio, encontrar uma distribuidora e/ou encontrar um mercado para seus produtos ou serviços. As empresas japonesas, que estarão participando desta rodada, são as seguintes. 
 
Liberty Solution
Atuação: Pesquisa, desenvolvimento, fabricação e comercialização de equipamentos de cuidado e assistência a idosos.
Produtos, tecnologias e Serviços: Equipamentos de cuidado e assistência a idosos. O principal produto é o Liberty Himawari, um aparelho automático de tratamento de dejetos.Kyoto Kagaku
Atuação: Desenvolvimento, fabricação, comercialização de materiais didáticos de ciência médica e serviços médicos e promoção de parcerias em atualização de novos métodos pedagógicos no desenvolvimento de novos produtos.
Produtos, tecnologias e Serviços: Equipamentos didáticos para o ensino de medicina e enfermagem na área de saúde e radiologia.Micoto Technology
Atuação: Desenvolvimento, fabricação e comercialização de robôs simuladores para medicina.
Produtos, tecnologias e Serviços: Robôs simuladores com funcionalidades próximas ao ser humano. Um robô para treinamento em endoscopia está sendo desenvolvido para o Congresso ENDO 2020 no Brasil.Agritree
Atuação: Geração de energia solar fotovoltaica para a agricultura (Solar Sharing)
Produtos, tecnologias e Serviços: Todas as atividades vinculadas a implementação, sustentação e controle da tecnologia “Solar-sharing”

Mebiol
Atuação: Licenciamento de tecnologia para outras empresas, e posterior exportação do filme IMEC de hidrogel para utilização na agricultura.
Produtos, tecnologias e Serviços: Film farming “Imec®”, utilização de filme de hidrogel no solo proporcionando à cultura alto valor nutricional e poucas perdas hídricas.

Idrasys
Atuação: Planejamento, proposição, desenvolvimento e comercialização de serviços com Inteligência Artificial. Buscam ser versáteis em parcerias com empresas e tecnologias na área de IA.
Produtos, tecnologias e Serviços: Serviços e tecnologias vinculados a IA, como reconhecimento de imagem e voz, processamento de linguagem natural, análise de regressão, entre outros, que poderiam ser utilizados nas seguintes atividades: 1- Máquinas agrícolas autônomas. 2- Pulverização aérea por drones. 3- Previsão de expectativa mercadológica e de demanda por IA. 4- Técnica de cultivo hidropônico. 5- Estrutura para agricultura inteligente. 6- Controle da saúde e reprodução de gado bovino e suíno.

GGP
Atuação: A GGP propõe ideias de novos empreendimentos com bases tecnológicas que atendam às necessidades das comunidades e empresas locais. Ela auxilia estas empresas desde a produção do solo a até o desenvolvimento de canais de distribuição e parcerias de venda.
Produtos, tecnologias e Serviços: Cronobe, a sua ração animal com pro-bióticos, e a prestação de consultoria de desenvolvimento de negócios.

Kawahara Tea Industries
Atuação: Atacadista e fabricante (mistura) de chás
Produtos, tecnologias e Serviços: processamento do famoso Chá de Ureshino, blend e serviços atacadistas

Suzuki Seiansho
Atuação: Planejamento, desenvolvimento e fabricação de produtos acabados e semi-acabados para fabricação de doces (anko)
Produtos, tecnologias e Serviços: Matéria base para fabricação de doces japoneses e tecnologia/técnica de fabricação dos mesmos.

Blantec International
Atuação: Implantação de tecnologia para congelamento instantâneo, equipamento para fabricar gelo.
Produtos, tecnologias e Serviços: Tecnologia HybridICE de congelamento instantâneo de salmoura de alta concentração. Armazenamento mais rápido que preserve mais a qualidade e o frescor de produtos. Equipamentos de gelo e frigoríficos e sistema de logística.

Kankyo Daizen
Atuação: Compra da urina de boi como matéria prima para posterior fabricação e comercialização do produto. Na América Latina buscam parcerias diretas com as grandes empresas para produzir e consumir localmente.
Produtos, tecnologias e Serviços: Tecnologia de decomposição de urina de boi para fabricação de desodorante, agentes de melhoramento de solo e qualidade da água.

Koyo Kosan Atuação: Oferece serviços ambientais como tratamento e destinação de resíduos industriais, compra de resíduos e projetos de obras ambientais.
Produtos, tecnologias e Serviços: Consultoria ambiental, gestão ambiental e prestação de serviços de coleta e transporte de resíduos industriais

Yuimarl Farm
Atuação: Reprodução, engordo, comercialização e exportação de porco Agu e Ishigaki Beef. Importação, produção e comercialização de ração. E importação/exportação de pescados.

Produtos, tecnologias e Serviços: Ishigaki beef e porco Agu, mais especificamente o know how de produção superprolongada dos Wagyus. Além das rações especializadas.
 
O perfil completo das empresas está no PDF: JICA empresas participantes
 
 
nov 152019
 

“A Modernização do Japão e as Relações Nipo-Brasileiras” foi o tema da palestra do prof. Dr. Shinichi Kitaoka, presidente da JICA – Agência de Cooperação Internacional do Japão. Realizado no amplo salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, contou com a abertura do prof. Vahan Agopyan, reitor da Universidade de São Paulo e do prof. Floriano Peixoto de Azevedo, diretor daquela Faculdade, entre outros convidados.

Kitaoka falou sobre as relações nipo-brasileiras, mas foi sobretudo uma verdadeira aula de história. Começou falando das atividades da JICA com o Brasil, desde o desenvolvimento da agricultura no cerrado até o assoreamento do Rio Tietê, implantação de agrofloresta em Tomé-Açu, passando por bolsas de estudo e pela implantação do “koban”, o policiamento preventivo no Brasil. Kitaoka atuou na ONU, quando o Brasil propôs a sua entrada como membro permanente no Conselho de Segurança. Atualmente, só Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido são permanentes, os demais 10 países são eleitos a cada dois anos e se revezam. Japão e Brasil são os dois países que mais vezes integraram o conselho como membro não permanente. O Japão foi favorável à ideia, mas essa modificação no órgão não foi aprovada. Entretanto, por esse motivo, Kitaoka teve muito contato com o Brasil e sentiu que o País era um grande parceiro do Japão.

O Japão mudou da Era Heisei para Era Reiwa, em maio de 2019. No Japão, além da numeração do ano da forma ocidental, há o número do ano que acompanha o Imperador. Assim, Heisei foi o nome da gestão do Imperador Akihito. Em janeiro de 1989 começou a Era Heisei, e portanto, 2019 corresponde ao ano 31 da Era Heisei, que também é o primeiro ano da Era Reiwa. Essa forma de cálculo dos anos era comum, no mundo inteiro, no passado. Em 21 de outubro deste ano, foi feita a cerimônia de entronamento oficial do Imperador Naruhito, com a participação de líderes de 191 países. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro também esteve presente. Essa cerimônia utiliza aposentos tradicionais e é realizada desde o século 8, embora o trono em si é mais recente, foi utilizado na posse do Imperador Taisho, em 1911. Mas a existência da família real é comprovada desde o século 6, portanto, é muito antiga. Passagens do Man’yoshu, antologia de poemas do século 8, descrevem detalhes da corte do Imperador. 

A ligação da família imperial com o Brasil já é antiga. A primeira visita do então Príncipe Herdeiro, mais tarde Imperador, Akihito e sua esposa Michiko, ocorreu em 1967. O casal voltou ao Brasil em 1978. Em junho de 1997, o casal retornou, desta vez na condição de Imperador e Imperatriz. Seu filho mais velho, o Príncipe Naruhito, agora Imperador, esteve no Brasil em 1982, esteve no Centenário da Imigração em 2008, e esteve participando do Fórum Mundial da Água, em março de 2018. Outros membros da família também estiveram no Brasil em diferentes épocas, mas o primeiro contato aconteceu em 1934, com a doação em dinheiro do próprio Imperador Showa para a construção do Hospital Japonês, em São Paulo, atual Hospital Santa Cruz, na Vila Mariana.

Explicando o nome da cátedra 

A cátedra Fujita-Ninomiya faz parte das atividades da JICA. Trata-se de um projeto que visa convidar ao Japão os recursos humanos que possam se tornar pilares do futuro e do progresso dos países em desenvolvimento. Dentro do projeto, a JICA estabeleceu um curso no Departamento de Direito Internacional e Comparado da Faculdade de Direito da USP, para o estudo e pesquisa do desenvolvimento e sobre a experiência do Japão na Era moderna.

“Explicando o nome do projeto, são dois nomes ilustres no intercâmbio entre o Brasil e o Japão, e curiosamente, eu os conheci no Japão quando éramos todos jovens. Edmundo Susumu Fujita (1950 ~ 2016) se formou na Faculdade de Direito da USP e seguiu carreira diplomática. Antes dele, os descendentes de japoneses foram ser médicos, engenheiros, mas nessa difícil carreira diplomática, Fujita foi o pioneiro, e ele progrediu pelo seu esforço pessoal. Ele foi Embaixador do Brasil na Indonésia e na Coreia do Sul. Infelizmente, ele faleceu há alguns anos.”

O outro nome é do professor da Faculdade de Direito da USP, Masato Ninomiya. Ele foi o primeiro nikkei a defender uma tese de Doutorado na Universidade de Tokyo, numa época em que isso era a coisa mais difícil do mundo.  Isso, porque, para conseguir o título era preciso estudar profundamente as leis da Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos, nas quais a lei japonesa se baseia. Depois, estudar a lei japonesa, decifrando os caracteres japoneses. Antes dele, alguns da Coreia do Sul e Taiwan defenderam tese de doutorado, mas Ninomiya foi o primeiro de um país que não utiliza caracteres chineses a atravessar essa barreira. “O professor Ninomiya não queria que colocassem seu nome na cátedra, alegando que não ficava bem para uma pessoa que está viva, mas eu insisti que o nome deveria homenagear as duas pessoas de maior destaque nessa área”, afirmou Kitaoka.

O Japão na Era Meiji

Sendo um especialista em história política e diplomacia, o palestrante não poderia deixar de falar de algumas passagens importantes na história do Japão, e escolheu “Restauração Meiji”, de 1868, como tema para a sua “aula”.

2018 marcou o 150º aniversário da Restauração Meiji. Na verdade, o nome “restauração” pode ser inadequado, pois se tratou de uma verdadeira e grande revolução. O termo restauração se refere à volta do poder nas mãos do Imperador, o que é correto, mas as transformações foram muito maiores.

Vamos lembrar que o Japão chegou a 1868 depois de 260 anos do governo do xógum Tokugawa, e antes dessa família, houve um longo período de governo dos samurais, totalizando aproximadamente 700 anos onde quem comandava o país eram clãs de samurais. O fim do feudalismo ocorreu em apenas 15 anos, depois da chegada do navio negro do Comodoro americano Perry. Os portos foram abertos para o mundo e o Japão teve que correr para recuperar seu atraso, tanto na tecnologia como na política e na defesa. É possível acreditar que as armas que os japoneses usavam eram as mesmas de 260 anos atrás?

Agora, a maior mudança ocorreu na área política. Depois de tanto tempo, acabou a época em que os samurais estavam no topo da pirâmide, e quem ajudou a acabar com isso foram os próprios samurais. Sim, havia uma pressão muito forte porque se não fizessem isso, poderiam se tornar uma colônia de algum país ocidental, como ocorreu na África, na Ásia e na América. Houve então uma união para o bem do País, para se conseguir uma rápida modernização e poder competir com as potências estrangeiras. Em 1871, todos os feudos foram extintos, incluindo os de Choshu e Satsuma, que ajudaram a derrubar o xogunato, porque era necessário.

Hirobumi Ito, em 1885, se tornou o primeiro primeiro-ministro do Japão. Apenas 20 anos antes, um samurai de baixo escalão, que nem lhe era permitido andar de cavalo, jamais poderia pensar em falar sobre política. A Restauração Meiji foi, portanto, uma grande revolução. Foi Hirobumi o responsável pela Constituição japonesa, a primeira fora do Ocidente (estudiosos vão se lembrar da Turquia, mas essa acabou logo). Essa Constituição previu a realização de eleições com a participação popular.

Houve casos de revolta nesse período de transição, porém o número de mortos foi pequeno, se compararmos com a Revolução Francesa, e com certeza, é muito menos do que as baixas da Revolução Russa ou da Revolução Chinesa.

Voltando ao Período Edo

A família Tokugawa conseguiu se manter no poder e manter um período de paz graças a sua habilidade política e pelos mecanismos que criou. O primeiro Tokugawa se estabeleceu em Tóquio, enquanto o Imperador permaneceu em Quioto. Havia muitos clãs poderosos e para enfraquecê-los, ele criou o “sankin koutai”, que era a obrigação do daimyô, senhor feudal, de manter uma residência na capital Edo, onde deveria permanecer por um ano, e retornar para sua terra onde deveria ficar também um ano, isso continuamente. Enquanto estava em sua terra, ele deveria deixar a esposa e filho ou filha em Edo. Assim, Tokugawa tinha esses familiares como reféns, caso o daimyô se rebelasse. Para fazer o “sankin koutai”, o daimyô tinha despesas bem altas, e o objetivo de Tokugawa era fazer os daimyôs gastarem bastante dinheiro nessas viagens, para não terem dinheiro para armamentos. O “sankin koutai” tinha regras rigorosas, e determinava o número de pessoas que cada daimyô deveria trazer segundo sua renda. Assim, deveria ter um x número de cuidadores de cavalos, x cozinheiros, x cavaleiros, etc. Somando tudo, um daimyô comum viajava com 150 a 300 homens em sua comitiva, mas há casos de daimyôs mais ricos que tinham que viajar com 4 mil pessoas. Quando a viagem era longa e difícil, esse daimyô gastava muito com hospedagens e alimentação do seu grupo. Curiosamente, o “sankin koutai” acabou desenvolvendo estradas e aperfeiçoando os meios de transporte, assim como criou o turismo fortalecendo hospedarias, restaurantes e prestadores de serviços nos locais de passagem dessas comitivas.

Pode-se dizer que o prédio da Faculdade de Direito da USP combinou com o conteúdo da palestra do presidente da JICA. A faculdade, a primeira do Brasil, cujas aulas começaram em 1828, começou ali mesmo, mas o edifício da foto foi erguida na década de 1930. Onze presidentes da República estudaram nessa escola.

Durante o Período Edo, cada samurai só podia ter um castelo e deveria morar nele. Antes, os samurais moravam junto com os agricultores e saíam para a guerra quando era preciso.

Nesse período, o Japão esteve fechado às nações ocidentais, excetuando a Holanda, mas os comerciantes holandeses ficavam confinados em Dejima, uma ilha artificial em Nagasaki. Foi uma medida para se defender dos cristãos, que teriam incitado uma revolução nas Filipinas. Não havia um comércio tão intenso com a Holanda, mas os estudiosos se interessavam pelos livros que os holandeses traziam. Assim, muitos estudavam o idioma holandês, e o estudo ocidental era chamado de “rangaku”, e havia escolas onde se ensinava “rangaku”. Uma dessas escolas foi “Tekijuku” fundado por Koan Ogata, um médico, que ensinou química, física, história natural e outras matérias para seus alunos. Ogata foi o primeiro a publicar um livro sobre patologia no Japão. “Tekijuku” formou os principais líderes da Era Meiji, como Masujiro Omura, responsável pelo desenvolvimento de técnicas de navegação e do sistema militar; Sonai Hashimoto e Yukichi Fukuzawa. O último foi jornalista, escritor e tradutor . Ele era fluente em holandês, mas quando foi a Kanagawa conhecer os estrangeiros que chegaram com a abertura do porto, ele se decepcionou porque os estrangeiros só falavam inglês. Ele passou a estudar inglês e participou a primeira missão diplomática do Japão para os Estados Unidos. Foi o fundador da famosa Universidade de Keio.

O Período Edo representou 260 anos praticamente sem guerras, aumento da população, aumento da produção agrícola, desenvolvimento do comércio, aumento da alfabetização e o surgimento de uma cultura peculiar, sem a influência do exterior.

Em termos de alfabetização, que serviu como alicerce para o sucesso da Restauração Meiji, era praticamente uma responsabilidade dos templos budistas. Chamadas de “terakoya”, objetivou dar uma educação básica para as crianças, com ensino da matemática, escrita, e incluindo geografia e história nos textos utilizados. Isso fez com que 40% da população total do Japão estivesse alfabetizada quando da Restauração. Número surpreendente para essa época no mundo inteiro, já que estudar era privilégio das classes mais ricas.

Uma das artes que se desenvolveu foi o Ukiyo-ê, que retratou os costumes e as paisagens daquele período. Kabuki, uma arte cênica popular, mas de tão interessante, que os samurais também iam assisti-la. Havia tranquilidade no Período Edo, que pode ser verificado nos livros escritos na época. Os japoneses viajavam muito até Ise Jingu, o maior santuário xintoísta do Japão. Consta que uma moça conseguia viajar sozinha e em segurança de Edo até Ise Jingu entre os séculos 17 e 18. A distância é de 400 km, e isso é surpreendente se compararmos com qualquer lugar do mundo.

O período representou também o intercâmbio entre os daimyôs, pois todos estavam morando em Edo.

Além das técnicas de guerra, a navegação praticamente não desenvolveu durante todo o período Edo. Antes do fechamento dos portos, era comum a navegação até Filipinas e Tailândia, por exemplo, para o comércio, mas durante Edo não houve necessidade de desenvolver a navegação mais longa. Assim, quando o Comodoro Perry chega ao Japão, surpreendeu, porque o navio do americano era pelo menos dez vezes maior do que o maior dos navios que o Japão possuía.

Turbulências no começo da Era Meiji

O Japão teve que abrir as portas e sua modernização teve que ocorrer muito rapidamente, mas nada foi tão simples. Surgiu um debate conhecido como “Seikanron”, por volta de 1873, que se discutiu o envio de tropas à Coreia, como punição por não reconhecer a legitimidade do Imperador Meiji e pelos insultos sofridos pelos diplomatas japoneses quando estes tentaram estabelecer um diálogo. Saigo Takamori, um dos estrategistas do governo Meiji, era favorável à ideia, porque, entre outros motivos, num confronto internacional poderia levar muitos samurais que estavam desempregados desde a extinção do sistema feudal. A ideia foi finalmente descartada e Takamori e outros lideres dessa proposta deixaram o governo Meiji, voltando para suas terras. Insatisfeito, Takamori lidera, em 1877, a Rebelião de Satsuma, na qual acaba derrotado. Depois desse episódio, os antigos samurais percebem que não havia possibilidade de vencerem o governo e então passam a lutar para vencer, não com as armas, mas pelas ideias. A modernização das ideias, portanto, ganha velocidade a partir desse ponto, com a formação de partidos políticos e a realização de uma eleição geral para a câmara baixa, efetivada em 1890.

Outro personagem que merece ser lembrado é Takeaki Enomoto. Natural de Edo, sua família servia ao clã Tokugawa. Quando o navio americano força a abertura dos portos, Enomoto, que já estudava holandês, vai estudar no Centro de Treinamento Naval em Nagasaki e em Tsukiji. Depois, Enomoto vai estudar na Holanda e continua na Europa entre 1862 e 1867, retornando fluente em holandês e em inglês. Quando o governo de Tokugawa cai em Edo, Enomoto e seus seguidores recusam a entregar a frota naval em poder do grupo (a maior frota do Japão), e seguem para Hakodate, em Hokkaido, onde organizam resistência em favor de Tokugawa no fortificado de Goryokaku, construído em 1864. No local, a tropa leal a Tokugawa fundam a República de Ezo, um país independente, elegendo Enomoto como presidente. O governo Meiji não quer que o País fique dividido e inicia a Batalha de Hakodate, onde a tropa de Enomoto é derrotada, em junho de 1869. Ele foi preso e, apesar de ser considerado um traidor do País, o governo Meiji reconhece que seus atos sempre foram de um patriota, aquele que pensa no melhor para o seu País. Assim, ele é libertado em 1872, e com todo o seu conhecimento, ele participa da Força Naval do Império. É enviado para a Rússia onde tem sucesso na assinatura de um tratado. Depois se torna Ministro da Marinha e ocupa outros ministérios, como da Agricultura e Comércio, da Educação e das Relações Exteriores. Nesse cargo, Enomoto foi muito ativo em incentivar a emigração dos japoneses, criando a seção de emigração dentro daquele ministério e incentivando empresas privadas a trabalharem com a emigração. Pode-se dizer então, que Takeaki Enomoto é o responsável pelo início da emigração japonesa para a América do Norte, Central e do Sul, incluindo o Brasil.

O que impressiona os estudiosos da história é a velocidade com que as coisas ocorreram no Japão. Saindo de um longo período feudal para uma democracia nos moldes ocidentais, e também a adoção do sistema de ensino semelhante aos das nações ocidentais.  Em 1872 foi estabelecido o ensino primário como no Ocidente. Depois vieram o ensino ginasial e o colegial, e também as universidades, que contrataram muitos professores do exterior, e com isso, o País se desenvolveu a ponto de poder-se equiparar às maiores potências mundiais em poucas décadas.

A palestra foi proferida pelo professor Shinichi Kitaoka (Ph.D.), presidente da JICA, Agência de Cooperação Internacional do Japão, em 4 de novembro de 2019, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Estudo do Desenvolvimento Japonês (Cátedra Fujita-Ninomiya).

Escreveu: Francisco Noriyuki Sato, jornalista e editor, do site culturajaponesa.com.br, autor de livros e professor de História do Japão. Foi assessor de comunicação da Cooperativa Agrícola de Cotia e assessor da relações públicas da Jetro. Atual presidente da Abrademi e diretor cultural da Associação Cultural e Assistencial Mie Kenjin do Brasil.

out 282019
 

Shinichi Kitakoka, presidente da JICA – Agência de Cooperação Internacional do Japão, ministrará uma palestra especial no dia 4 de novembro de 2019, das 19 às 21 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, 95, Centro. O tema da palestra será “A Modernização do Japão e as Relações Nipo-Brasileiras”. Entrada Franca.

O palestrante desperta interesse, pois, antes de assumir a presidência da JICA, foi reitor da Universidade Internacional do Japão, professor do National Graduate Institute, Universidade de Tóquio e da Universidade de Rikko. Foi também Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário e Representante Permanente Adjunto do Japão junto às Nações Unidas (ONU). É especialista em história, política moderna e diplomacia do Japão, sendo autor de vários livros.

A palestra integra o Programa de Estudo do Desenvolvimento Japonês (Cátedra Fujita-Ninomiya), que é um convênio entre o Japão e o Brasil, onde a JICA estabeleceu um curso no Departamento de Direito Internacional da USP para o estudo e pesquisa sobre a experiência do desenvolvimento no período do pós-Guerra até a atualidade.

Dia 4 de novembro de 2019 – 19 às 21 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP.