mar 142015
 

slide hokuriku shinkansenA cidade turística de Kanazawa, na província de Ishikawa, inaugurou neste sábado, dia 14 de março de 2015, a sua estação de trem-bala. A linha, batizada de Hokuriku Shinkansen, começa na Estação de Tóquio e tem o ponto final em Kanazawa, cujo percurso demora 2 horas e 28 minutos. Até agora, esse percurso era feito metade de trem-bala (até Nagano) e metade de trem expresso, e com um intervalo para baldeação de apenas 10 minutos, o total da viagem ficava em 4 horas.

DSCN4250Há muito, os habitantes de Kanazawa esperam por esse meio de transporte. Como a cidade vive de turismo, a expectativa é grande em relação ao movimento do comércio, restaurantes e hotéis. Pelo lado da JR West, empresa que administra o trem, os preparativos foram muitos garantir velocidade, conforto e segurança. Basta lembrar que, no ano passado, em outubro, os trilhos já estavam instalados e o trem-bala percorreu várias vezes o trecho para teste e treinamento dos operadores. Até uma chefe das aeromoças da classe executiva da companhia aérea JAL foi contratada para treinar o pessoal de bordo do trem.

Estação Kanazawa

Estação Kanazawa

Para a população, a expectativa veio crescendo ao longo dos anos. A própria estação de Kanazawa, que existe desde 1898, recebeu uma grande reforma nos anos 1990, e já naquela época, deixaram espaço para as plataformas do novo trem-bala, e uma enorme área foi construída para garantir a circulação dos usuários do futuro e também para instalação de lojas e restaurantes no futuro. Deve ter sido um grande investimento para uma cidade que tem hoje 464.752 habitantes (dados de 1/11/2014).

No final do ano passado, grandes lojas foram instalar filiais na cidade, bem como redes de restaurantes foram atraídos pelo seu potencial turístico. A notícia é boa, porém, acabou causando problemas de falta de mão de obra. A gigante de restaurantes populares Sukiya (que tem filiais em São Paulo), que tem quase 2 mil lojas no Japão, teve que diminuir o horário do atendimento da loja de Kanazawa, pois não consegue contratar jovens para o atendimento. Outros restaurantes locais reclamam que a falta de mão de obra levou-os a aumentar o valor da remuneração, mesmo para aqueles que trabalham temporariamente, caso dos estudantes. Kanazawa tem sete universidades e é comum os estudantes fazerem bico nas horas livres. Mas, está faltando candidatos.

Dois tipos de linhas funcionam sobre os mesmos trilhos, perfazendo o total de 25 saídas diárias de Tóquio a Kanazawa, além de mais dois que fazem o percurso parcialmente. A velocidade máxima desses trens é de 260 km/hora.

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Painéis anunciam os horários dos novos trens. Foto de Toru Saito, da JICA Hokuriku

Kagayaki – Essa linha é a mais rápida, pois para apenas em Omiya, Nagano e Toyama.

Hakutaka – Essa linha para em todas as 14 estações pelo caminho.

Tsurugi – Percorre apenas de Toyama a Kanazawa, com parada em Shin Takaoka.

Asami – Percorre de Tóquio a Nagano, parando em várias estações.

kanazawa gueixaO novo trem-bala promete mudar os rumos da história da região. No ano passado, diversos eventos culturais e artísticos foram realizados em Tóquio, para mostrar os atrativos de Kanazawa e região, com vistas à praticidade do novo transporte. E no final de 2014, embora sem o trem, verificou-se um aumento na procura por hospedagem nas thermas (onsen) da região. Uma revista de Tóquio publicou a lista dos fatos que mais marcarão o ano de 2015, e colocou o trem-bala de Kanazawa em primeiro lugar.

Inauguração com bonecos para agradar as crianças. Foto de Toru Saito, da JICA Hokuriku

Inauguração com bonecos para agradar as crianças. Foto de Toru Saito, da JICA Hokuriku

Para a inauguração de hoje, os grupos de dança que se apresentaram fizeram longos e exaustivos ensaios, e até as gueixas da cidade saíram dos três distritos reservados a elas, levaram a sua arte e engrandeceram a festa.

dez 112014
 

O Nikkei Institute of Industry and Regional Economy publicou, na revista Nikkei Shohi Insight 「日経消費インサイト」ou “Visão do consumidor japonês”, de novembro de 2014, uma pesquisa sobre os prováveis sucessos de 2015 no mercado japonês. Esse instituto trabalha com dados de consumo do passado e presente, e assim estuda a mudança de comportamento e de hábito do japonês.

Nesse levantamento, muito comentado pela mídia, chamou atenção o primeiro lugar ocupado pelo trem-bala, o Hokuriku Shinkansen, que ligará Tóquio a Kanazawa, a ser inaugurado em 14 de março de 2015. O segundo lugar coube ao Episódio 7 do Star Wars, sob a produção da Walt Disney, depois de uma janela de dez anos. O terceiro lugar é o impacto que estará tendo o mercado de smartphones, com a disputa entre as três grandes pelo cliente, e isso, além de trazer novas tecnologias, trará a redução do preço.

O caso do tenista Kei Nishikori, que agora é um dos melhores do mundo, deverá movimentar o mercado dessa modalidade e de produtos em 2015. É o quarto da lista. Já neste ano, cresceram o número de crianças que se matriculam em escolas de tênis, e se observa o aumento na venda de camisas polo semelhantes ao do atleta. O quinto lugar coube à revolução que se espera na área de animação e imagem, com o uso popular de redes sociais como Instagram e Vine, cujos videos curtíssimos de 7 segundos fazem muito sucesso no mercado americano.

O sexto lugar é ocupado pela reestruturação que será realizada na área comercial de Tóquio, com novos e grandes projetos, pois a cidade se prepara para as Olimpíadas de 2020. Isso deverá trazer um impacto, não só na área da construção, como também no comércio regional. O lançamento do relógio de pulso eletrônico da Apple em 2015, mudará o conceito de relógio, constatou a pesquisa que o colocou como o sétimo de maior impacto no ano que vem. Depois do sucesso do Noodle Maker, da Philips em 2014, espera-se uma grande reação de outros fabricantes quanto aos eletrodomésticos para a cozinha. É o oitavo da lista.

os mellhores de 2015 109“Cool Japan” e “Omotenashi” são campanhas para oferecer melhor serviço aos estrangeiros. Isso engloba as atividades “kawaii fashion” que a loja Shibuya da rede 109 (ichi maru kyu) vem trabalhando (foto ao lado), lojas de conveniência que vendem saquê 24 horas por dia, e outras inovações que vem agradando, não só os estrangeiros, mas principalmente os japoneses. Em nono lugar.

No décimo lugar aparecem empatados dois itens parecidos: 1) a mudança no sistema de distribuição de verduras pelo agricultor – que está optando por empresas que mantém um preço sem oscilações. Isso parece pouco, mas quando se sabe que gigantes de outros setores como a Toshiba, a Fujitsu, a Toyota e a JR (transportes) estão investindo na área, é porque mudanças virão. 2) a partir de 2015, os produtos alimentícios trarão informações sobre a funcionalidade dos seus componentes. Como o japonês costuma ler tudo no rótulo, isso pode trazer mudanças no consumo de certos alimentos.

Kanazawa no topo da preferência

slide hokuriku shinkansenA surpresa a que se refere o título da matéria é que Hokuriku Shinkansen é apenas uma linha nova de trem-bala, num país que possui muitas outras linhas. Entretanto, como a cidade de Kanazawa vem ganhando espaço na mídia, com a promoção de feiras de alimentos, atrações e de produtos típicos em grandes centros como Tóquio, sempre trabalhando com a força chamativa do trem-bala, é possível que o público em geral esteja pensando nessa cidade como próximo destino turístico. A empresa de turismo JTB, que tem uma loja em Kanazawa, constatou que turistas estão optando pela cidade, deixando de lado outros destinos que lideravam a lista de preferência, como os parques temáticos Tokyo Disneyland e a Universal Studios de Osaka. Os grandes atrativos agora no inverno são as thermas da região. A rede de thermas Kaga-ya, que administra três casas, revelou que só há pouquíssimas vagas para hospedagem até o dia 3 de janeiro de 2015. Embora o trem-bala nem esteja funcionando, a baixa da moeda japonesa, que fez turistas desistirem de ir ao exterior, e a vigorosa campanha da cidade por turistas, parece já estar dando resultado.

set 102014
 
Publicação de 2004 relembrando os 40 anos dos Jogos de Tóquio. Foto de James Wang

Publicação de 2004 relembrando os 40 anos dos Jogos de Tóquio. Foto de James Wang

Os Jogos Olímpicos de 1964 foram uma oportunidade para apresentar o novo Japão, destruído pela guerra e reconstruído com uma velocidade inimaginável. Não foram apenas os estádios que surgiram do nada, mas toda a infraestrutura do País pareceu perfeita para os visitantes. Várias rodovias foram inauguradas, duas novas linhas de metrô começaram a funcionar em Tóquio, o aeroporto de Haneda foi modernizado para receber os turistas, e o que chamou a atenção foi o trem-bala, o primeiro Shinkansen, que ligou as estações de Tóquio e Shin-Osaka, numa distância de 515 km, em apenas 4 horas de viagem incluindo duas paradas. Até hoje, esse é o trecho mais concorrido do mundo, onde circulam 13 trens por hora, cada qual com capacidade para 1323 passageiros. Os modernos trens N700 reduziram o tempo de viagem para 2 horas e 25 minutos, mas naquela época, aquele trem da linha Tokaido foi notícia no mundo inteiro, pela velocidade e pela pontualidade.

Além de construir a estrutura física, todos os japoneses estavam conscientes da sua responsabilidade para com o êxito daquele grande evento internacional. Aquele Japão tinha renascido e não guardavam mais rancores da ferida recente. Todos procuraram fazer o melhor de si, não só para dar a melhor atenção para os turistas, mas colaborando para manter a cidade completamente limpa. Assim, num esforço coletivo, o Rio Sumida que corta a cidade, antes bastante poluído, ficou limpo e passou a ser frequentado por pescadores amadores.

Dentro do trem-bala: melhor que avião. Foto de Wally Gobetz

Dentro do trem-bala: melhor que avião. Foto de Wally Gobetz

Dentro dos ginásios, os atletas japoneses vestiram a camisa do País de verdade e conseguiram superar muitos dos seus adversários e se tornaram lendas. De um 8º lugar nos Jogos de Roma em 1960, com oito medalhas de ouro, quatro anos depois, os japoneses subiram para o 3º lugar, com 16 medalhas de ouro, dentre 93 países, perdendo apenas para os Estados Unidos e a União Soviética. A organização foi milimétrica, desde a recepção no aeroporto, na entrada nos estádios, e no show de abertura. Não havia recursos eletrônicos, mas havia recursos humanos competentes, e o espetáculo foi transmitido via satélite para o mundo, sendo os primeiros jogos a serem transmitidos dessa forma.
No dia 10 de outubro de 2014 se completam 50 anos da abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Todos os estádios construídos continuam sendo usados até hoje e abrigam grandes shows e competições. O trem-bala, que chega alcançar 320 km/h, cresceu para 2.387 km de trilhos. O aeroporto de Haneda perdeu o título de internacional para Narita, mas continua recebendo os vôos nacionais. A cidade continua limpa e os pescadores ainda estão no Rio Sumida.

Reflexão se faz necessária: O Japão começou a construir a infraestrutura necessária para os jogos assim que venceu a competição entre os candidatos (Detroit, Viena e Bruxelas) em março de 1959. Tiveram cinco anos para isso. Tóquio se candidatou novamente, mas perdeu para o Rio de Janeiro a sede dos próximos Jogos, de 2016.
No Brasil, ninguém fala nos Jogos Olímpicos do Rio, que acontecerão daqui a 2 anos, mas no Japão, que sediará os jogos de 2020, não só estão falando, como também apresentam num site uma campanha para receber de braços abertos os visitantes, e mostram todo o planejamento da infraestrutura a ser construída para o evento ser inesquecível. Veja em Tokyo2020

Aqui, num curioso noticiário de junho de 1964, a Universal Pictures mostra os estádios de Tóquio em fase final de construção, no trecho entre 3:43 a 4:27.