nov 112014
 

DSCN6003DSCN6007Tóquio é uma cidade que vive se transformando. E isso inclui, vez ou outra, uma volta ao passado. É o caso da curiosa batata-doce assada no vaso, preparada na saída da estação Ryogoku do metrô, no centro da metropole. Chama-se “tsuboyaki imo”, foi criado na Era Taisho (1912 a 1926)e foi popular ao final da guerra, mas havia sumido das grandes cidades. Basicamente, é um vaso de barro gigante com tampa. No fundo são colocados o carvão vegetal e o fogo, e há um orifício para entrada do ar. As batatas ficam suspensas perto da tampa. Esse processo permite que a batata fique assada sem ficar queimada, preservando assim, o seu sabor ideal. Shinji Arai, 72 anos, diz que quando se aposentou pensou em fazer alguma coisa que resgatasse o que seus filhos não conheciam mais, e encontrou a batata-doce assada, que foi comum  na sua infância. “Isso não dá lucro, porque demora muito para ficar pronta”, confessa o idealista.

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Shinya Matsuura e Shinji Arai

Mas não é só a batata-doce que traz de volta o sabor do Japão antigo. Outras barracas trazem verduras frescas, flores, conservas preparadas em casa, e até o raro chá de motigome (arroz usado em bolinhos). Na concorrência com as grandes redes de lojas de conveniência, a feira livre desapareceu de Tóquio faz tempo. Voltou aqui, por força do idealismo de jovens universitários, liderados por Yuichi Tomohiro, formado em administração comercial pela Universidade de Waseda, que criaram o “Sumida Yacchaba”, uma feira-livre como de antigamente, onde o agricultor traz o produto, vende e pode conversar com o consumidor. Na verdade, começou com a participação no evento “Festival da Educação Alimentar”, promovido pela administração do bairro de Sumida, que durou dois dias, em 2010. Na época, os agricultores conhecidos dos organizadores foram convidados, e o resultado foi positivo, com algumas oficinas realizadas para o público, e donos de restaurantes que vieram comprar os produtos. Com o sucesso, o grupo marcou um novo evento para junho do ano seguinte. Só não esperavam o grande tsunami de março de 2011, que devastou o Noroeste do país. O líder Tomohiro foi ajudar na região atingida e não tinha como retornar, e assim, seu colega Shinya Matsuura, formado em agronomia pela Universidade de Tokyo, teve que assumir o comando do próximo evento.

Estação Ryogoku do metrô

Estação Ryogoku do metrô

Matsuura tinha experiência, pois ajudava no festival de verão promovido anualmente no bairro de Sumida, e trazia verduras da cidade onde fazia estágio para vender. Ele soube que alguns idosos ficaram desnutridos após o incidente de 2011, pois não encontrava verduras nas lojas próximas. Assim, percebeu que não havia mais agricultores na região e constatou a importância da feira-livre no centro da cidade, onde viviam muitos idosos. Em 2012, planejou uma feira Yacchaba mensal em 18 localidades de Tóquio, incluindo pequenos espaços em cafeterias. A idéia era que os produtos ficassem próximos das casas dos moradores. Porém, a iniciativa não deu certo, pois não havia como administrar tantos locais.

Hoje, o “Sumida Yacchaba” é realizado semanalmente. Aos sábados, acontece na saída da Estação Hikifune, perto do Skytree, ponto turístico; e aos domingos, na saída da Estação Ryogoku. Sempre sorridente, alto e gordo, Shinya Matsuura é constantemente confundido com um lutador de sumô. Também pudera, o Yacchaba da Estação Ryogoku fica bem na frente do Estádio Nacional de Sumô.

Veja continuação em: Por uma Tóquio de antigamente: apartamentos de operários para estrangeiros

Francisco Noriyuki Sato, jornalista