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FUTEBOL
JAPONÊS Paixão
de massas no mundo inteiro, o futebol no Japão, de esporte pouco
conhecido e
praticado no país há poucos anos atrás, passou
à atual condição de terceiro
esporte mais popular do país, conquistando prestígio e
milhões de torcedores no
arquipélago, principalmente após a Copa de 2002 - a
primeira realizada na Ásia
e a primeira sediada por dois países: o Japão e a
Coréia do Sul - da qual nós
brasileiros sempre teremos ótimas recordações. Francisco
Noriyuki Sato, jornalista e consultor do CULTURA JAPONESA, nos fala
sobre a
história do futebol no país dos samurais, e de como
célebres brasileiros
ajudaram os japoneses a ganhar intimidade com a redonda e a popularizar
o
futebol no outro lado do mundo. A
IMPORTAÇÃO DO
FUTEBOL Em
japonês, "futebol" é sakkã. A palavra deriva do
inglês
"soccer". Historicamente, existiram pelo mundo vários tipos de
jogos
similares ao futebol, que envolviam basicamente dois times chutando uma
bola
com os pés, mas é tido como pacífico o
entendimento de que foi na Inglaterra
que surgiu o futebol moderno, na segunda metade do século XIX. Há
registros de que o futebol chegou ao Japão na Era Meiji
(1868-1912), época na
qual o país abriu-se a influências ocidentais num intenso
esforço de
industrialização e modernização. Desde
então, os japoneses passaram a dividir
os esportes no país em dois grupos: os tradicionais (como o
sumô, o judô, o
karatê, o kendô, etc.) e os importados do ocidente. Em
1878, instrutores
ingleses trazidos ao Japão para ensinar práticas
esportivas ocidentais
apresentaram, entre diversas modalidades que variavam do
clássico atletismo
(corridas, arremesso de peso) aos "exóticos" esportes de
inverno, e
do elitista tênis aos chamados "esportes populares" (corridas de
gincanas - veja "Gincana Poliesportiva - Undoukai"), o futebol aos
japoneses. Apesar
da fundação de uma liga de praticantes do futebol em
1922, a Dai Nippon Sakkã
Kyõkai (Associação de Futebol do Grande
Japão), o esporte permaneceu pouco
praticado por décadas no arquipélago, restringindo-se
à prática amadora dentro
de escolas e empresas. A Dai Nippon Sakkã Kyõkai, que
como quase todas
entidades esportivas de antes da guerra no Japão usava a
prática de esportes
para doutrinar crianças e jovens na ideologia
militar-nacionalista do governo
da época, foi substituída após a 2ª Guerra
pela Nippon Sakkã Rîgu (Liga de
Futebol do Japão). Seguindo diretrizes do governo de
ocupação americano
(1945-1952), as entidades esportivas no Japão pós-guerra
se desmilitarizaram e
adquiriram o atual perfil de entidades civis de caráter
esportivo propriamente
dito. Entretanto, o esporte que se tornou paixão das massas no
Japão logo após
o fim da guerra foi o beisebol, extremamente popular entre os
americanos, e que
rapidamente se profissionalizou no arquipélago devido ao grande
interesse de
empresas patrocinadoras e da mídia. Dos
anos 50 ao final dos anos 80, o futebol no Japão foi praticado
em nível amador
em escolas que pudessem manter o "luxo" de ter um campo adequado (num
país onde espaço é um bem escasso, um enorme campo
gramado é extremamente caro)
e em universidades. Algumas empresas que também mantinham times
amadores,
entretanto, passaram aos poucos a investir em times semi-profissionais
e
inscrevê-los na Nippon Sakka Rîgu, também conhecida
como JFL (sigla do nome da
entidade em inglês, "Japan Soccer League"). Assim, na
década de 80, a
Liga japonesa era formada por 10 times semi-profissionais montados
não a partir
de clubes como no Brasil, mas de empresas do setor privado, times estes
que em
1992 formaram a base da atual Liga Profissional de Futebol do
Japão, a
J-League. CRAQUE
DE FICÇÃO,
CRAQUE DA REALIDADE Parte
da atual popularidade que o futebol goza atualmente no Japão tem
raízes numa
geração de jovens que curiosamente passou a apreciar o
esporte através de ídolos
da ficção - mais especificamente de um mangá
(quadrinhos japonês), que ao se
tornar um fenômeno de cultura pop deu impulso a um esporte
até então pouco
praticado no país. Em
1981, quando o futebol era algo desconhecido pela maioria da
população japonesa,
uma revista de quadrinhos chamada "Shûkan Shõnen Jump"
("Pulo" semanal para meninos) passou a publicar uma história
cujo
protagonista era um estudante ginasial determinado a se tornar o maior
craque
do futebol do Japão. A história se chamava "Captain
Tsubasa" (no
Brasil, "Super Campeões"), numa referência ao nome do
personagem
principal, o menino Õzora 'Oliver' Tsubasa. Criada pelo
desenhista Yõichi
Takahashi, a série "Captain Tsubasa" foi publicada em
capítulos
semanais durante 8 anos seguidos, somando 5.300 páginas. Que
impacto pode ter
uma história em quadrinhos no Japão? Considerando-se que
na época a revista
"Shõnen Jump" era lida semanalmente por 6 milhões de
crianças e
adolescentes, estamos falando de toda uma geração de
japonesinhos que conheceram
o futebol através de "Captain Tsubasa". A
primeira geração de jogadores de futebol profissionais
japoneses efetivamente
cresceu lendo as aventuras de "Captain Tsubasa", acompanhando como o
herói da história, um craque nato obsecado pela bola,
evolui na carreira, desde
as bases no time da escola quando criança (que tem um
técnico brasileiro,
Roberto, ex-alcóolatra que encontra no esporte uma chance para
reconstruir sua
carreira e sua vida), até a consagração como
jogador profissional adulto,
passando por grandes times estrangeiros como o Milan e o São
Paulo, até
tornar-se capitão da seleção japonesa. Apesar de
mostrar o futebol de um modo
um pouco distorcido (onde parece mais importante correr do que jogar) e
melodramático (conflitos pessoais dentro e fora de campo eram
mostrados com
ênfase na história), "Tsubasa" foi um craque de
ficção que motivou
futuros jogadores japoneses com uma grande aspiração, e
ajudou a popularizar o
esporte entre os jovens. Mas
na vida real, o primeiro craque japonês que alcançou a
condição de superestrela
do futebol no país foi o atacante Kazuyoshi Miura, mais
conhecido por seu
apelido de campo: Kazu. Aos 15 anos de idade Kazu decidiu vir sozinho
para o
Brasil, determinado a seguir sua vocação e tornar-se um
jogador de futebol mesmo
contrariando sua família, que obviamente preferia que ele
terminasse os estudos
e seguisse uma carreira mais convencional. Assim, a partir de 1982 o
adolescente Kazu viveu no Brasil como muitos outros jovens de sua idade
que
procuram fazer carreira no futebol: morou em alojamentos de clubes e
passou
pelas categorias de base do Juventus. Sendo estrangeiro, também
atuou como
auxiliar juvenil em programas de intercâmbio, acompanhando
jogadores
brasileiros adolescentes para jogos amistosos e
demonstrações no Japão. No
mesmo 1982 Kazu defendeu o Japão na Olimpíada dos
Imigrantes, em São Paulo, num
time misto cuja base era do Nippon Country Club, de Arujá. E em
1985 ele viajou
ao Japão com a equipe júnior do XV de Jaú, onde
participou de campeonato
internacional. Em
1986, Kazu iniciou carreira profissional contratado pelo Santos, e foi
o
primeiro japonês a conquistar uma posição num
grande time brasileiro. Ganhando
destaque com suas passagens por outros times no Brasil, como o
Palmeiras, o
Matsubara, o CRB, o XV de Jaú e o Coritiba, ao retornar ao
Japão em 1990 Kazu
já gozava de status de celebridade ao entrar para o Yomiuri F.C.
(que deu
origem com o advento da J-League ao Verdy Kawasaki, atual Tokyo Verdy
1969). Em
parte, a sorte também atuou a favor de Kazu - ele foi a pessoa
certa, na hora
certa, no lugar certo. A partir de 1992, com a criação da
J-League, o futebol
no Japão se profissionalizou, e graças à
experiência adquirida com a carreira
no Brasil, Kazu não apenas estava no auge da forma, como
também era o melhor
jogador de futebol japonês de sua geração - o
primeiro craque nipônico, que a
mídia no Japão elevou à condição de
estrela, e os torcedores à condição de
ídolo. Em 1994, Kazu jogou na Itália, atuando pelo Genoa
C.F.C., e retornou ao
Japão em 1995, voltando a jogar pelo Verdy Kawasaki até
1998. Ele voltou à
Europa em 1999, onde jogou uma curta temporada pelo Dinamo Zagreb, e
voltou ao
Japão no mesmo ano, jogando até o final de 2000,
defendendo o Kyoto Purple
Sanga. De 2001 a 2005, Kazu jogou pelo Vissel Kobe e atualmente
encontra-se no
Yokohama F.C. Durante dez anos - de 1990 a 2000 - Kazu esteve na
seleção
japonesa, somando 91 participações e marcando 56 gols. Nascido
em 1967, Kazu agora aproxima-se do momento da aposentadoria como
jogador. Rico,
premiado e consagrado, Kazu tem sido presença constante na
mídia japonesa,
atuando como consultor e comentarista de futebol na tevê. Sua
carreira hoje
inspira vários jovens japoneses a seguir seus passos, dispostos
a literalmente
ir para o outro lado do mundo e realizar um sonho e uma
vocação: ser jogador de
futebol. Tendo passado boa parte de sua juventude no Brasil, entre
muitas
dificuldades e conquistas Kazu criou um forte elo com o país do
futebol. Ele é
um craque japonês que fala português como segunda
língua (para se ter uma
idéia, o site oficial do jogador chama-se "Boa Sorte Kazu!") e
que
gosta de coisas simples mas brasileiríssimas, como do chopinho
gelado com
churrasquinho, da caipirinha, das rodinhas de samba e da praia. Em
suma, ele se
tornou aquilo que brasileiros entendem ser um legítimo jogador
de futebol. A
J-LEAGUE O
pontapé que definitivamente profissionalizou e popularizou o
futebol no Japão
ocorreu em fevereiro de 1991, com a criação formal da
Nippon Puro Sakkã Rîgu
(Liga Profissional de Futebol do Japão), a chamada J-League
(fala-se "djei
liigui"). Em 1992, ainda em formação, a J-League realizou
as primeiras
partidas oficiais da Liga, mas o primeiro campeonato oficial só
ocorreu no
outono de 1993, com a participação 10 times. Com ampla
divulgação da mídia, e
jogos que atingiram picos de audiência iguais aos das partidas do
consagradíssimo campeonato profissional japonês de
beisebol, a J-League
estabeleceu-se definitivamente em 1993, quando passou a realizar
campeonatos
nacionais anuais regulares. Algo
que diferenciou o campeonato da J-League das competições
similares no resto do
mundo nos anos 90 foi a regra da chamada "morte súbita", na qual
nenhum jogo podia terminar em empate. Na J-League não haviam
partidas de
retorno para posterior desempate, o que aumentava a "pressão" e
a
expectativa de jogadores e de torcedores. Se houvesse empate no tempo
regulamentar, ia-se para a prorrogação, e se o empate se
mantivesse, a
definição ia para os pênaltis - tudo no mesmo jogo.
A dramaticidade garantida
pela "morte súbita" colaborou para a crescente popularidade do
futebol no Japão. Desde então, novos times de alto
nível competitivo surgiram
no Japão e a J-League teve que ser ampliada. Em
1999 foi criada a J-League Division 2, ou simplesmente J2 (fala-se
"djei
tsu"), a partir de 10 times que "subiram" da Liga
semi-profissional, a JFL. Assim, o futebol profissional no Japão
passou a ser
dividido entre os clubes da Primeira Divisão, ou J1 (fala-se
"djei
wan"), e os da J2. Em 2005, o campeonato da J-League adotou o formato
dos
campeonatos de clubes europeus, com partidas de retorno (uma "em
casa" e outra na "casa do adversário"), mantendo-se o
rebaixamento dos 2 últimos colocados na J1 para a J2, e a
promoção dos 2
primeiros colocados da J2 para a J1, instituídos no campeonato
em 1999. Atualmente
(2006), a J-League é composta pelos seguintes times: J-League
Division 1-
J1 *
Gamba Osaka (campeão da J1 em 2005) *
Urawa Red Diamonds *
Kashima Antlers (campeão da J-League em 1996 e 1998, e da J1 em
2000 e 2001) *
JEF United
Ichihara Chiba *
Cerezo Osaka *
Júbilo Iwata (campeão da J-League em 1997, e da J1 em
1999 e 2002) *
Sanfrecce Hiroshima *
Kawasaki Frontale *
Yokohama F. Marinos (campeão da J-League em 1995, quando era
só Yokohama
Marinos, e da J1 em 2003 e 2004, após fusão como o
Yokohama Flügels) *
F.C. Tokyo *
Oita Trinita *
Albirex Niigata *
Omiya Ardija *
Nagoya Grampus
Eight *
Shimizu S-Pulse *
Kyoto Purple Sanga *
Ventforet Kofu *
Avispa Fukuoka (campeão da J2 em 2005) J-League
Division 2
- J2 *
Kashiwa Reysol *
Tokyo Verdy 1969 (antigo Verdy Kawasaki, campeão da J-League em
1993 e 1994) *
Vissel Kobe *
Vegalta Sendai *
Montedio
Yamagata *
Consadole
Sapporo *
Shonan Bellmare
(antigo Bellmare Hiratsuka) *
Sagan Tosu *
Tokushima Vortis *
Mito Holly Hock *
Yokohama F.C. *
The SPA Kusatsu *
Ehime F.C. (time que subiu da JFL em 2005) Para
manter a popularidade do futebol em alta, a J-League atua com um forte
esquema
de produtos licenciados e merchandising, que varia do já
consagrado sistema de
venda de produtos de vestuário e outros acessórios com as
cores e marcas dos
times, a cards colecionáveis de fotos de jogadores e
histórias em quadrinhos.
Video games com gráficos cada vez mais realistas, baseados em
partidas de
futebol da J-League e da FIFA, são também comuns. Num
país onde o futebol é
apenas mais um esporte entre muitos (diferentemente do Brasil, onde a
cultura
popular e o futebol estão praticamente integrados), o
esforço comercial é
fundamental para que o futebol se mantenha em voga. E estando na moda,
o
futebol no Japão atrai também um grande público
feminino. Tamanha é a
tranqüilidade nos estádios japoneses, que mulheres e
crianças formam
literalmente metade do público que comparece às partidas. A
participação de técnicos e jogadores estrangeiros
foi importante para que o
nível técnico dos times da J-League evoluisse. Alguns dos
estrangeiros famosos
que atuaram nos campos japoneses foram os alemães Michael
Laudrup e Guido
Buchwald (que ficou conhecido na mídia japonesa por curiosamente
comemorar gols
gritando o próprio nome, e que atualmente é treinador do
Urawa Red Diamonds). Mas
hoje os japoneses já possuem seus próprios ídolos
futebolísticos. Alguns dos
mais famosos jogadores da atualidade no Japão constam da lista
de convocados do
atual técnico da seleção japonesa, o
brasileiríssimo Zico. É o caso Yoshikatsu
Kawaguchi, o goleiro da seleção; dos centro-avantes
Atsushi Yanagisawa, Keiji
Tamada e Seiichiro Maki; dos jogadores de defesa Koji Nakata, Keisuke
Tsuboi,
Makoto Tanaka, Yuji Nakazawa e Tsuneyasu Miyamoto; e dos meio-campistas
Shinji
Ono, Mitsuo Ogasawara e Takashi Fukunishi. O
LADO BRASILEIRO DO FUTEBOL
JAPONÊS Assim
como no resto do mundo, a presença de brasileiros no futebol
é uma constante.
No Japão, vários brasileiros se destacaram. Leonardo
Nascimento de Araújo é o Reonarudo que já
foi do Flamengo, do São Paulo,
do Valência, do Paris Saint-Germain, do Milan e da
Seleção Brasileira. Ele se
transferiu para o Japão em 1996 para substituir Zico, quando
este se aposentou
como centro-avante do Kashima Antlers com uma grande festa. No
Japão, Leonardo
destacou-se como atacante do Kashima e era conhecido na mídia
por sua fama de
hansamu (belo, bonito) - e por ficar avermelhado com a gritaria das
fãs
japonesas. José
Roberto Gama da Oliveira, mais conhecido como Bebeto, foi outro ilustre
membro
da Seleção Brasileira que jogou pelo Kashima Antlers.
Além da habilidade nos
gramados, o público aguardava os gols de Bebeto para ver a
famosa coreografia
comemorativa que ele havia criado na Copa de 1994, a "nana-nenê"
(na
época, o jogador dedicou um gol ao filho recém-nascido),
vista com simpatia
pelos japoneses. Decidido
e dono de um chute potente, Carlos Caetano Bledorn Verri foi um
ídolo do Júbilo
Iwata durante os quatro anos em que atuou pelo time. Mais conhecido por
seu
apelido de campo, Dunga é outro membro da Seleção
do Tetra que após ter jogado
no Internacional, no Corínthians e no Stuttgart, deixou sua
marca no futebol
japonês. Alcindo
Sartori, chamado de Arushindo pelos japoneses, já estava
vivendo no
Japão anos antes da criação da J-League, e quando
o futebol profissionalizou-se
no país, destacou-se no Kashima Antlers até 1994, quando
transferiu-se para o
rival Verdy Kawasaki. Na temporada de 94 da J-League, Alcindo ganhou
notoriedade por seu saldo de gols (50 em 71 partidas), e ficou
conhecido na
mídia por sua aparição num comercial de
macarrão instantâneo para a tevê, no
qual sua "marca registrada" - a cabeça meio careca e longos
cabelos
laterais amarrados num rabo-de-cavalo - foram penteados como um topete
de
samurai antigo. Há
também curiosos casos de jogadores brasileiros que assumiram o
Japão como nova
pátria, e naturalizaram-se japoneses graças ao futebol. Rui
Ramos, jogador brasileiro que naturalizou-se japonês e adotou
ajaponesado nome
de Ramosu Rui, é um pioneiro do futebol no Japão. Ramos
foi para o Japão em
1977, época na qual o futebol japonês era amador e os
salários eram baixos,
para jogar no time de uma empresa. Com o tempo, e após vencer
uma série de
dificuldades, ele se adaptou ao país, casou-se com uma japonesa,
e em 1989
decidiu naturalizar-se japonês e mudou seu nome. Sua longa
cabeleira ondulada e
barba, além de seu reconhecido talento com a bola, o tornaram um
dos jogadores
mais conhecidos no Japão com o advento da J-League. Ele foi o
primeiro
ocidental a jogar pela seleção japonesa, na disputa das
vagas para a Copa de
1994 nos Estados Unidos, e é atualmente o treinador do time de
seu coração: o
Tokyo Verdy 1969 (esse 1969 faz parte do nome do time). Wagner
Lopes, que no Brasil começou nas categorias de base do
Grêmio, foi para o Japão
para jogar em times semi-profissionais de empresas e lá
profissionalizou-se,
passando por vários times da J-League, como o Kashiwa Reysol, o
Bellmare, o
Nagoya Grampus, o F.C. Tokyo e o Avispa. Naturalizou-se japonês
em 1997, e foi
o primeiro ocidental a jogar pelo Japão numa Copa, em 1998. Alessandro
dos Santos, conhecido apenas como Alex - ou como dizem os japoneses,
Arekusu -
seguiu o exemplo de Kazu às avessas. Em 1994, aos 16 anos de
idade, Alex foi
para o Japão fazendo parte de um sistema de intercâmbio de
jovens atletas, e
sua habilidade com a bola rendeu-lhe uma bolsa de estudos e
permanência no
país. Tornou-se jogador de futebol profissional no Japão
em 1997, contratado
pelo Shimizu S-Pulse, e foi eleito o melhor jogador da J-League em
1999. Em
2001, Alex naturalizou-se japonês e foi convocado para a
seleção japonesa na
Copa de 2002. Atualmente jogando pelo Urawa Red Diamonds, Alex vai
jogar
novamente pelo Japão na Copa de 2006. São
tantos os brasileiros que atuaram e ainda atuam no futebol
japonês nos mais
diversos níveis - jogadores, treinadores, auxiliares
técnicos, tradutores,
preparadores físicos, etc. - que é difícil citar
todos. Entre os mais famosos
jogadores, é oportuno mencionar que já passaram pelos
gramados nipônicos
Émerson Passos, Bismarck Barreto Faria, Magno Alves, Washington
Cerqueira,
Marquinhos e Alex Mineiro, e entre os técnicos mais conhecidos,
basta citar que
Toninho Cerezo, Émerson Leão, Joel Santana e Paulo
Autuori engrossam uma
respeitável lista de estrangeiros que treinaram times japoneses.
O importante é
destacar que o futebol japonês, considerado um dos mais
internacionalizados (ou
como prefere a mídia, 'globalizados') do mundo, é
bastante influenciado pelo
Brasil através de tais participações. VENERADO JÎKO
Os
japoneses em geral sabem que Pelé é o "sakkã no
ousama" (rei do
futebol), mas idolatria mesmo, eles possuem por um outro brasileiro:
Arthur
Antunes Coimbra - nosso conhecido Zico. Chamado
de Jîko no Japão, o "galinho de Quintino" já era
uma celebridade no
Brasil por seus feitos no Flamengo e na até hoje admirada
seleção brasileira de
1982. Em 1991, após ter ocupado o cargo de Secretário de
Esportes do governo
Collor, Zico aceitou ir para o futebol japonês, que na
época
"engatinhava" para a profissionalização. Mesmo sendo
considerado
"velho" para jogar futebol (na época ele estava com 38 anos),
Zico
demonstrou no Japão o que significa ser um verdadeiro craque ao
levar seu time,
o Kashima Antlers, à vitória da primeira fase do primeiro
campeonato da
J-League e continuando a jogar por 3 anos. Conhecido por seu
compromisso ético
com o esporte, sua dedicação ao futebol, e sua fidelidade
aos poucos clubes por
onde passou, Zico rapidamente ganhou a simpatia dos japoneses. Mas ao
expor-se
e lidar com o choque cultural, em parte aceitando o que os japoneses
tinham a
oferecer ao futebol, e em parte defendendo seus pontos de vista para
que o
futebol evoluisse no país, Zico conquistou respeito no
Japão ao nível da
idolatria. Após aposentar-se como jogador, ele continuou como
assessor técnico
do Kashima Antlers, cujo resultado resume-se no fato do time ser
tetracampeão
da Primeira Divisão do campeonato japonês. Zico
é uma referência do futebol do Japão. Sua
atuação em campo e seu esforço para
divulgar o esporte fora de campo tiveram grande peso na
popularização do
esporte no arquipélago. Se antes da J-League o brasileiro
conseguia passear
livremente pelo confortável, eficiente e barato sistema de trens
do país,
depois que os japoneses passaram a assistir os jogos pela tevê a
mera presença
de Zico na rua causava pandemônio. Virar celebridade no
Japão significa perda
de liberdade, mas estádios lotados e torcidas animadas valeram a
pena. Profundo
conhecedor do futebol japonês, Zico admira sobretudo a disciplina
e a dedicação
ao aprendizado dos japoneses. Numa entrevista à revista
"Japão Aqui",
Zico contou que pouco antes dos Jogos Olímpicos de Atlanta ele
recebeu uma
visita de Zagallo. "Eu falei para ele que conhecia todos os jogadores
japoneses,
e que se ele quisesse saber alguma coisa deles... Mas ele não
quis, disse que o
Brasil ganharia fácil, e tal", disse Zico. Ao subestimar o
Japão, a
seleção brasileira amargou uma derrota histórica,
e ironicamente permanece até
hoje sem uma medalha de ouro olímpica no futebol. Agora
Zico não dá mais informações sobre os
japoneses. Na Copa de 2002, sob comando
do técnico francês Philippe Troussier, o Japão
não conseguiu passar das
oitavas-de-final. Terminada a Copa, os japoneses chamaram Zico para
dirigir a
seleção japonesa com dois objetivos: classificar o
Japão para a Copa da
Alemanha e tentar fazer o Japão chegar às
quartas-de-final. O primeiro objetivo
foi alcançado, e com louvor (o Japão foi a primeira
seleção a garantir sua vaga
para a Copa de 2006 por disputa). O segundo, saberemos ao
término da Copa,
quando também se encerra o contrato de Zico e quatro anos de
trabalho como
técnico dos "samurais azuis". A seleção japonesa,
aliás, é a única
cujo nome do treinador antecede o do próprio país.
Tão idolatrado é Zico no
país do sol nascente, que a mídia japonesa apelidou sua
própria seleção de
"Jîko Japan". É a primeira vez que algo assim ocorre. A
única coisa
certa após a Copa da Alemanha é que Zico ainda
manterá contato com o Japão, e sua
escola de futebol no Rio de Janeiro - destino disputadíssimo por
crianças e
adolescentes japoneses que almejam futura
profissionalização no futebol -
continuará a receber jovens do outro lado do mundo. Observações
do autor: Em agosto de 1985, tive a
oportunidade de viajar com o Kazu
ao Japão, ele como jogador do júnior do XV de Jaú,
e eu como intérprete do time
e bolsista da Associação de Intercâmbio
Brasil-Japão. O Kazu já tinha fãs
naquela época. Todos os hotéis utilizados durante a sua
turnê pelo Japão viviam
lotados de adolescentes. As meninas faziam plantão na
recepção dos hotéis,
esperando seu ídolo aparecer para tirar uma foto e entregar um
presentinho. O
futebol ainda era amador mas percebia-se que as entidades (prefeituras,
times,
escolas e patrocinadores) incentivavam bastante a prática da
modalidade pelas
crianças e jovens. Os estádios já eram bons e as
escolas compareciam em peso
para torcer. O hábito de convidar times colegiais brasileiros
havia começado em
1984 e continua até hoje. O
interesse do Japão pelo
futebol brasileiro começou bem antes
de todos esses atletas citados na matéria. Em meados da
década de 70, alguns
nisseis brasileiros foram convidados por equipes semi-profissionais do
Japão
para jogarem futebol. O fato não ganhou repercussão no
Brasil por que em geral
eram jogadores pouco conhecidos, que jogavam futebol em times amadores
de São
Paulo, praticamente equipes de futebol de várzea. Esses
jogadores eram
contratados para trabalharem nas empresas e defenderem-nas nos
campeonatos
locais. Um dos mais famosos é Sérgio Echigo, nascido em
1945, que chegou ao
Corinthians em 1963 e depois se mudou para o Japão. 02/junho/2006 AO
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