Budismo

 

Lista de Templos Budistas no Brasil

1. A definição

Conforme a tradição da cultura gangética, dos séculos V-VI a.C., o Budismo foi uma das vertentes filosófica/religiosa que venceu as fronteiras além da cadeia do Himalaia, a nordeste, e o deserto do Afeganistão, a noroeste. Época de glória, a Índia de então compreendia um território maior do que o atual, pulverizado em pequenas repúblicas e monarquias autônomas. O termo Buda se refere mais a um estado, desenvolvido através da ascese, cujo significado é o Iluminado. Não se trata de alguém divino, de natureza sobrenatural. Pelo contrário, príncipe de nascença, Sidharta não apenas logrou a Iluminação mas foi o responsável pela divulgação dos ensinamentos: o Dharma. Não teria sido ele o primeiro dos Budas, como ele próprio advoga. E este estado, tampouco, se restringe apenas a um personagem histórico.

Os textos a que se refere a vida dele, e também os discursos, foram transmitidos principalmente pelos discípulos, entre eles o notável Ananda. Conhecidos por sutras, foram escritos inicialmente em língua pali, sânscrito e traduzidos para o chinês. Vários concílios foram realizados após a morte do Buda Shakyamuni, o qual nos referimos, afim de separar os discursos e facilitar o ensinamento. Nesta época duas correntes formaram-se, o Mahayana e o Hinayana, o primeiro penetrando na China e o outro estendendo-se no sudeste asiático.

Também os discursos em sua diversidade, uma vez escolhidos, formaram-se as escolas budistas.

2. O nascimento

Dizem os antigos que na república de Kapilavastu, os soberanos Suddhodana e Mayadevi após mais de 25 anos de bodas ainda não tinham recebido a graça do nascimento de um descendente. A nação conseguira a paz com as vizinhas, através de alianças, mas ainda submetia-se a pagar tributos afim de garantir proteção. Suddhodana era o poderoso da casta dos ksatriyas – os guerreiros -, e queria um filho para dar prosseguimento a um governo benevolente mas poderoso.

Mas esta inquietação teve seus dias findos com a revelação de uma profecia: Mayadevi foi visitada num sonho por um elefante branco, de seis presas, apontando com a tromba o seu ventre. Os adivinhos interpretaram como bom presságio, sendo o elefante um mensageiro dos ventos da prosperidade.

Aquela gestação durou dez meses, como reza a lenda, quando Mayadevi pediu autorização para retomar a Kollya, a terra natal. Durante o transcurso, ao atravessar o Bosque de Lumbini, Mayadevi sentiu pontadas. Pediu para repousar e, quando estendeu o braço para colher uma flor que chamara-lhe a atenção, deu início ao serviço de parto. Uma criança dourada veio ao mundo. Naquele momento, uma chuva de néctar caiu repentinamente e do fundo da terra ribombou um enorme estrondo. Aquela criança teria caminhado sete passos, do chão floresceram flores de lótus, e subitamente estacou: “Entre o céu e a terra sou um ser único”, declarou.

O sentido pode ser visto de maneira simbólica. Não somente aquele ser teria nascido como uma infinidade de outros, mas cada um mantendo sua unidade.

De acordo com o calendário lunar, o acontecimento teve vez no quarto mês, quando vivia-se a estação das flores.

Era a primeira noite de lua cheia: o “Vesak. Mas adaptado no calendário solar, a data refere-se a 8 de abril, adotado por inúmeras tradições budistas, entre elas as denominações japonesas. Por acontecer neste período, no Japão passou-se a chamar também de Festa das Flores – Hanamatsuri.

Uma semana após seu nascimento, Mayadevi acabou falecendo inesperadamente. 0 filho recebeu o nome de Sidharta. Ele teria sido criado por uma tia, Mahaprajapati. Bem tinha nascido, ainda condoído pela dor da esposa morta, Suddhodana conclamou os anciões para prever o futuro do sucessor. Entre estes, o velho ermitão Asita resolveu conhecer o filho de Suddhodana. Em prantos, Asita declarou que não viveria o suficiente para conhecer os prodígios do pequeno Sidharta.

Revelou que aquele que veio tornar-se-ia num grande soberano, tal qual Suddhodana ou, ao contrário, no salvador do mundo, no Ser Iluminado – o Buda. Todos os sinais revelados no corpo também apontavam para este lado.

Entretanto, Suddhodana resolveu abafar. Enquanto vivesse, faria tudo para que Siddharta não fosse levado em direção às querelas do ascetismo.

3. A juventude

Preocupado com o destino do filho, Suddhodana não permitiu que ele conhecesse o sofrimento que campeava solto no mundo. Em seu palácio, as muralhas separavam a pompa vivida no palácio da vida ordinária das vielas da zona urbana.

Os melhores professores foram contratados para ensinar-lhe a gramática, a retórica, as artes, além dos instrutores de atividades físicas e guerreiras. Nunca houve um aluno tão aplicado. Às vezes, Siddharta caia numa profunda tristeza e se isolava, sentado no sopé das árvores. E se entregava em profunda meditação. Todos viam-no como estranho. Quando meditava, apesar do sol mudar de posição a sombra que o cobria mantinha-se no mesmo lugar, protegendo-o dos raios mais fortes. Tinha também uma profunda compaixão pelos insetos e animais, evitando matá-Ios ou maltratá-Ios. Ao contrário, uma vez feridos cuidava com todo o apreço.

Quando chegou a adolescência, Suddhodana resolveu entretê-Io com outras atividades, dando-lhe o aconchego dos palácios de inverno, de verão e das chuvas. Assim teria passado a sua juventude, num universo edulcorado no qual o prazer tomara-se o maior chamariz. Nenhuma tristeza tinha lugar, somente a alegria e a sensualidade dos corpos jovens e cheio de saúde.

Aos 16 anos Siddharta contraiu matrimômo com a bela Yasodhara, uma prima, com quem teve o filho Rahula.

4. A descoberta

Numa das tardes em que a festa inebriava os sentidos e o vinho confundia a mente, Siddbarta passa desapercebido pelos guardas e acompanhado do servo Channa vence as pesadas portas. Passeando pelas ruelas mal cheirosas com o esgoto a céu aberto, cães alimentando-se do resto da comida, atirada janela afora pelas mulheres, muros sombrios que mal isolava a umidade, Sidharta depara-se com uma cena escabrosa. Um velho estava sendo enxotado pelos vendedores ambulantes, pois não tinha dinheiro para consumir e, devido a lentidão, atrapalhava o comércio local. Sidharta pede uma explicação a Channa:

– Por que o maltratam?
– Senhor, aquele é um velho. Todos os desprezam, inclusive a própria família. Não trabalha mais e assim não consegue produzir riquezas. Consideram-no um imprestável.
– Mas isso é injusto – revoltou-se.

Adiante, uma outra cena chamou a atenção de Sidharra, cada vez mais interessado a situação inusitada do mundo.

Era um enfermo, estirado em uma maca, decrépito e suando, sem que ninguém o socorresse.

– E aquilo, Channa, do que se trata?
– Veja, Senhor, os familiares choram sem nada poder fazer. O doente encontra-se debilitado e pode morrer.
– O que é a morte? – inquiriu Sidharta – ao que o servo apontou para outro lado, mostrando um funeral. Em volta os familiares choravam copiosamente, alguns em estado de total desespero.

Todas aquelas cenas incomodaram profundamente o jovem príncipe. Tinha conhecido o sofrimento que sentiu de forma distanciada. Foi quando lançou a pergunta derradeira:

– Vou ficar velho, como aquele lá?
– Sim.
– E doente como aquele outro?
– Sim, o Senhor vai ficar.
– A morte vai me visitar? A mim e também às pessoas que amo, a minha esposa Yasodhara, o meu filho Rahula, os meus pais e meus amigos. Todos irão morrer?
– Esta é a única verdade, príncipe Sidharta – disse cabisbaixo Channa.

Retornou ao palácio deprimido com a existência do sofrimento, que ninguém estava isento, nem os pobres, nem os ricos, reis e príncipes. Todos iriam sofrer e doentes padeceriam causando mais sofrimentos naqueles que o amavam. Era noite ainda. O corpo das mulheres, adormecidas após a frenética atividade festiva, para Sidharta apresentava-se em total putrefação, adiantando a sua decadência com a velhice, a doença e a morte.

Aproximou-se da esposa, que em sono abraçava amorosamente seu filho Rahula. Beijou-os e, na companhia de Channa, mais uma vez abandonou o palácio, pois queria reunir-se aos anacoretas dos bosques.

Assim que avançou pelo bosque, entregou seu cavalo a Channa e sacando da espada cortou um tufo de seus cabelos.

Ordenou que Channa retornasse, sem a sua companhia. O servo chorava com a decisão do amo. Por longos e árduos seis anos Sidharta praticou todas as formas de austeridades, sofrendo na carne a dor, mas sem almejar resultado. Desistiu.

Banhou-se no rio Nairanjana e sentiu-se melhor. Passava por uma trilha a camponesa Sujata, de quem aceitou uma tigela de leite coalhado. Os companheiros de Sidharta assistindo a cena, pensaram que ele tinha se degenerado e resolveram abandoná-lo. Sidharta avistou adiante um barco em que uma moça tocava alaúde. E resolveu contestar os antigos companheiros: “Veja, para o som produzir-se é preciso que as cordas não estejam nem frouxas e nem esticadas demais”.

A prática do Caminho Correto é desta forma: nem a busca do prazer como no palácio, e nem a rigidez dos ascetas dos bosques.

“Devemos buscar o Caminho do Meio” – disse Sidharta.

Desta forma sentou-se em meditação sob a árvore Bodhi, em Bodhigaya, durante sete dias enfrentou o demômo Mara, o da Ilusão e da Mentira. Finalmente, a 8 de dezembro, pela manhã vislumbrou adiante a estrela matutina e entendeu: tomou-se no Iluminado, o Buda. E revelou: “eu e todos os seres vivos tomamo-nos iluminados neste instante”. Após a Iluminação, chamado de Buda, percorreu os inúmeros países da região gangética ensinando o Caminho Correto – o Dharma.

Muitos tomaram-se discípulos que o acompanharam nos retiros, assembléias e falas. Morreu aos 80 anos.

Texto do historiador e monge Francisco Handa, publicado na revista do 39º Hanamatsuri – abril/2005.

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