Shigeaki Ueki

 

Ele teve uma carreira meteórica, chegando ao posto de Ministro das Minas de Energia com 38 anos de idade, o mais jovem a ocupar o cargo. Natural de Bastos, Shigeaki Ueki foi um dos fundadores do Nippon Country Club e líder de diversas agremiações.

P: Como começou a sua carreira?

Ueki: Ainda estudante de direito, trabalhei no Banco Moreira Sales, no Escritório de Engenharia Vicente Nigro Jr., Laboratório Xavier e, finalmente Comercial Yamamoto, onde tive o prazer de conhecer o sr. Katsuzao Yamamoto, fundador do Nippon Country Club.

P: Sabemos que o senhor sempre se destacou como o mais jovem em todos os lugares…

Ueki: Depois de 1959, já como advogado, fui consultor jurídico de várias empresas e fiz parte de conselhos de entidades de classe. Fui assessor do Ministro da Indústria e do Comércio, membro da delegação brasileira junto à Associação Latino Americana de Livre Comércio – ALALC e consultor na OEA – Organização dos Estados Americanos. Em 69 fui designado diretor da Petrobrás, e mais tarde ocupei o posto de Presidente da Petrobrás Distribuidora, e ainda, conselheiro do BNDES. Sempre fui o mais jovem em todos estes lugares.

P: Como foi a sua passagem pelo Ministério das Minas e Energia?

Ueki: Fui nomeado no dia 15 de março de 1974 pelo presidente Ernesto Geisel e permaneci até o último dia de seu governo, em 1979, e o período coincidiu com o primeiro choque do petróleo que abalou a economia brasileira e a mundial. Após deixar o Ministério, fui nomeado Presidente da Petrobrás e aqui defrontamos com o segundo choque do petróleo com conseqüências mais nefastas que o primeiro. Como presidente, dentro de seis anos, consegui elevar a produção do petróleo de 160 mil para 500 mil barris por dia.

P: O senhor foi indicado para Embaixador do Brasil na Comunidade Européia. Por que não foi efetivado?

Ueki: O Presidente Figueiredo nomeou-me embaixador e fui aprovado pela Comissão das Relações Exteriores do Senado, mas os opositores aos governos militares fizeram obstrução por eu ter servido aos governos de Castelo Branco, Médici, Geisel e Figueiredo. O recém-eleito Tancredo Neves confirmou a indicação ao antecessor, mas eu tomei a iniciativa de pedir o cancelamento do decreto de nomeação.

P: Como o senhor participou da fundação do Nippon?

Ueki: O senhor Katsuzo Yamamoto possuía uma grande propriedade em Arujá e resolveu destinar uma parte para a construção do Clube. Nós caminhamos dentro do terreno e escolhemos o ponto mais alto, de onde podíamos avistar a via Dutra. Eu fui um dos redatores do estatuto do Nippon.

P: Dentre os fundadores, a maioria tinha mais idade do que o senhor. Como se deu a participação dos mais jovens?

Ueki: Havia um grupo de nisseis que dirigia a A.C.E. Piratininga de Pinheiros. Eu e o presidente Sadao Kayano éramos deste grupo. Aliás o meu primeiro escritório de advocacia, em sociedade com o Dr. Kazuo Watanabe (depois desembargador) foi constituído numa parte sub-locada do escritório de engenharia do Sadao. Como ele é engenheiro civil e foi um dos primeiros bolsistas a estudar no Japão, começou a ajudar na construção do Clube. O ginásio coberto foi trabalho do Sadao com a técnica que ele trouxe do Japão, cuja estrutura é toda em madeira. Na época era o maior vão de madeira construído no país, e continua firme ate hoje…

P: Houve dificuldade na venda dos primeiros títulos?

Ueki: o sr. Yamamoto tinha uma fábrica de lâmpadas, a Sadokin, e bons vendedores como o sr. Kato e Harada, que atuavam na distribuição das lâmpadas. Eles venderam os primeiros títulos. Muitos dos primeiros sócios eram comerciantes de lâmpadas e em geral eram descendentes de italianos.

P: O senhor nasceu em Bastos, uma cidade fundada por japoneses. Como isso refletiu na sua vida associativa?

Ueki: A cidade de Bastos é a que mais possui espírito associativo, que é uma característica dos japoneses. Assim existem diversas associações, times de beisebol, etc. na cidade. Em Bastos só havia um curso ginasial e para estudar era necessário ir para as cidades vizinhas ou vir para São Paulo, onde poderiam conciliar o estudo com trabalho. Como haviam muitos ex-bastenses em São Paulo, foi fundado um clube chamado GECEBS, onde fui presidente. No Piratininga, um grande líder foi o Issao Nishi, também ex-bastense como eu.

Só para curiosidade: a turma de 1950 do meu ginásio de Bastos ainda continua se encontrando. Do grupo de 28 pessoas, 17 compareceram ao encontro de dezembro do ano de 1996. Não é fantástico?

P: O senhor vê esse espírito associativo nos jovens de hoje?

Ueki: As famílias nikkeis de hoje estão mais estruturadas e em condições de sustentar os filhos estudantes. Naquela época todos nós começávamos a trabalhar bem cedo e era normal. Mas havia muita oportunidade de emprego, pois os escritórios e bancos estavam com falta de pessoal qualificado. E o salário era relativamente alto. Lembro-me que, com o salário do meu primeiro emprego podia comprar 900 jornais por mês ou ir 300 vezes ao cinema. Talvez por não passarem dificuldades, acho que está faltando um pouco do espírito associativo e comunitário nos jovens de hoje, mas é uma outra realidade.

Agora, eu acho que o maior patrimônio que o sr. Yamamoto construiu no Nippon foi o material humano. Desde o início ele optou por uma administração enxuta e rigorosa, e tomou ele mesmo todas as decisões. É claro, uma decisão centralizada tem seus prós e contras, mas conseguiu consolidar o Clube e hoje temos uma diretoria jovem e ativa que está desenvolvendo ainda mais o seu trabalho.

Entrevista realizada em 1997 e publicada na Revista Nippon nº 2.