Cultura Japonesa

ago 172021
 

A cantora Misora Hibari já se apresentou no Brasil. Foi em agosto de 1970, portanto, há 51 anos.

Como uma estrela no auge de sua carreira, mereceu apresentação no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, que era o maior espaço para shows da cidade. Os auditórios do Anhembi só ficariam prontos a partir de 1972.

O desafio de trazer a grande artista coube aos irmãos Koei e Mário Okuhara, então proprietários da Rádio Apolo e da Gravadora Astrophone. Consagrada no Japão, Misora Hibari, cujo nome verdadeiro era Kazue Kato, era chamada de “Embaixatriz das Cantoras”, por ter iniciado a carreira no período da Segunda Guerra Mundial, com apenas oito anos de idade. Os tempos eram difíceis e seu primeiro disco “Kappa Boogie Woogie” foi gravado em 1949, assim como seu primeiro filme “Nodojiman Kyodai”, e ambos fizeram sucesso. Tendo um país completamente arrasado pela guerra, os japoneses viram, na menina de 12 anos, a inspiração de que precisavam, para seguirem na árdua luta pela sobrevivência nos anos seguintes. A garota-prodígio fez jus à esperança que depositavam nela. Trabalhou muito, protagonizou diversos filmes, gravou discos e deu shows viajando bastante, e até se apresentou no Havaí, Estados Unidos, em 1950. A imagem da pequena Hibari fazendo shows e filmes ilustravam os jornais e as principais revistas.

No Brasil, essa imagem também era muito forte. Discos da Hibari eram lançados pela gravadora Denon e seus filmes lotavam as salas da Liberdade. A vinda da Misora Hibari pode ter sido o acontecimento mais relevante até hoje em termos musicais para a coletividade nipo-brasileira. Cantores relativamente famosos estiveram no Brasil, na década de 1960, a convite do Cine Niterói, mas Misora Hibari realmente era a única a ser considerada o símbolo da canção popular japonesa.

Na mensagem dirigida aos fãs brasileiros, antes de sua saída do Japão, Misora Hibari afirmou sentir muita alegria ao saber que existem fãs no Brasil, e que o Brasil é o local mais distante do Japão, lembrando uma música que diz: “A manhã chega na parte superior do planeta Terra. No outro lado deve ser noite”. Ela afirma que, ainda criança, soube que no outro lado estava o Brasil. “Mesmo estando em países diferentes, as músicas que ligam os corações são iguais. Serão apenas três dias no Brasil, mas pretendo me apresentar da melhor forma possível”, afirmou.

Na mensagem do caderno de programação do show da cantora, o deputado estadual Shiro Kyono escreveu: “Dada a repercussão de sua fama, o governador Roberto de Abreu Sodré, por intermédio da Secretaria de Turismo, emprestou sua colaboração oficial e, no mesmo intuito, o prefeito Paulo Maluf, por intermédio da sua Secretaria de Turismo, receberá a cantora como “Hóspede Oficial da Municipalidade”.

Foi um acontecimento notável e que merece ser lembrado. 

Texto: Francisco Noriyuki Sato

ago 152021
 

Educação no JapãoA Abrademi e a Associação Cultural Mie programaram uma série de três palestras on-line abordando o tema “Ensino no Japão”. As inscrições (gratuitas) são realizadas pelo Sympla e a transmissão será pelo Zoom.

O público alvo são as pessoas que apreciam ou têm curiosidade sobre o Japão, e aqueles que pretendem visitar o país no futuro, seja como turista, a negócios, para trabalhar ou como estudante, para que tenham maior proveito da oportunidade a partir do conhecimento de sua história e cultura.

1 – A História do Ensino no Japão (22/08/2021 – 9 às 10h30): A primeira palestra da série “Ensino no Japão” aborda a história do ensino no Japão desde a chegada da escrita chinesa, passando pelo período de isolamento, a reabertura dos portos e a formação de escolas nos moldes ocidentais, a fase da Segunda Guerra Mundial e o ensino no período do pós-guerra.

Palestrante: Francisco Noriyuki Sato, formado em Jornalismo pela USP, foi assessor de comunicação da Cooperativa Agrícola de Cotia e da Jetro – Japan External Trade Organization, autor dos livros História do Japão em Mangá, Banzai – História da Imigração Japonesa no Brasil, entre outros, é presidente da Abrademi e editor do site culturajaponesa.com.br. Foi bolsista da JICA na Universidade de Kanazawa, em 2014, e ministrou palestras em universidades e museus do Japão em 2016 e 2019. Escreve artigos para revistas em português e japonês, edita livros e ministra o Curso de História do Japão desde 2017.

2 – As Escolas para Brasileiros no Japão (29/08/2021 – 9 às 10h30): Segunda palestra da série “Ensino no Japão” aborda uma visão do ensino nas escolas estabelecidas no Japão, com o objetivo de dar uma educação brasileira para filhos de brasileiros que trabalham no Japão.

Palestrantes: Alexandre Tetsuo Funashima, formado pela faculdade de Belas Artes de São Paulo em Artes Visuais, leciona Artes e História da Arte na grade curricular da EAS (Escola Alegria de Saber) no Japão, nas unidades de Hamamatsu (Shizuoka) e Toyohashi (Aichi) desde 2008. Atua também na área da ilustração Digital e ministra cursos de Desenho e Pintura Digital online e presencial; e Samuel Toshikasu Tachibana, bacharel e licenciado em Física em 2005 pelo Instituto de Física da USP. Em maio de 2006 iniciou a docência na Escola Alegria de Saber, nas unidades Toyohashi e Hamamatsu, Japão. Leciona física, química e ciências.

3 – A Educação Atual no Japão (12/09/2021 – 9 às 10h30): Terceira e última palestra da série “Ensino no Japão”, aborda o sistema pedagógico atual do Japão, apresentando o funcionamento geral das escolas japonesas. Inicialmente programada para o dia 05/9, por questões técnicas, foi transferida para o dia 12/9.

Palestrante: Sandra Terumi Suenaga Kawabata, com mestrado em Graduate School of Japanese Applied Linguistics pela Waseda University (2005).  É professora de idioma japonês na Fundação Japão em São Paulo.

Certificados: Haverá emissão de um certificado único, com carga horária, para as três palestras da série, somente para aqueles que assistirem as três palestras com transmissão on-line. Não basta estar inscrito para receber o certificado. Não haverá um certificado separado para cada palestra.

A iniciativa é da Abrademi (Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações) em conjunto com o departamento cultural da Associação Cultural e Assistencial Mie Kenjin do Brasil. Apoio institucional: Fundação Japão em São Paulo.

Para qualquer comunicação, utilize o endereço: abrademi@abrademi.com

ago 062021
 

Foto de Marine Perez/Miss Million

No mês de junho, a Times Higher Education, da Inglaterra, como faz desde 2004, revelou os dados do levantamento anual (2021) das universidades a nível mundial. A Universidade de Tóquio é a número 6 da Ásia e se mantém em 36º lugar no mundo. De suas salas saíram nove vencedores de Prêmio Nobel, 15 primeiros-ministros e cinco astronautas. Não é pouca coisa, mas em 2014 estava em 23º no mundo e era o número 1 da Ásia!

Há que considerar o grande investimento realizado pelas universidades da Ásia em geral, cujo desempenho superou a da tradicional universidade japonesa. Em 2015, cinco universidades japonesas estavam no ranking das 200 melhores, entretanto, em 2021, apenas a Kyoto University, em 54º do mundo, além da Tokyo, permanece na lista.

O ex-Primeiro Ministro Shinzo Abe desejava elevar 10 universidades japonesas à lista dos 100 melhores até 2020, e isso, obviamente, não foi atingido. Além da supremacia das universidades americanas e inglesas que permanecem no topo, as escolas da China, Hong Kong, Cingapura e Coreia do Sul estão avançando rapidamente.

As escolas japonesas têm contratado professores do exterior, para melhorar a qualidade do ensino, porém, esbarram na questão do custo. Professores americanos de primeira linha ganham em média 270 mil dólares por ano (levantamento de 2014), e eles preferem trabalhar num ambiente onde estejam outros professores estrangeiros do mesmo nível, para poder compartilhar pesquisas usando os dados mais recentes. Há também diferenças culturais quanto à hierarquia no Japão e a adaptação das famílias no País distante e onde poucos realmente falam inglês.

A pesquisa da Time Higher Education leva em conta vários fatores como número de professores estrangeiros, número de pesquisas publicadas, quantidade de citações, reputação, proporção de estudantes para professores, quantidade de doutores formados no período analisado, etc. Sendo assim, um trabalho publicado em inglês poderá ser visto e citado por todos os países do mundo, mas um trabalho no idioma japonês registrará pouca consulta, evidentemente, e isso será desvantajoso se considerar o sistema de pontuação da Times Higher.

O governo japonês está preocupado com o nível de suas universidades. Nós também.

A melhor universidade brasileira é a Universidade de São Paulo, que tem 5.383 professores, 97 mil alunos, mais de 13.300 funcionários e forma cerca de 2.300 doutores por ano (dado de 2014), produzindo em torno de 25% de tudo o que se produz na área acadêmica no Brasil. A USP é a melhor no Brasil, mas é a 235ª do mundo, e perde para a Pontifical Catholic University of Chile. Mesmo dentre os países do BRICS e países emergentes, a USP está em 13º lugar.

Obs. Na listagem internacional, a classificação não especifica a colocação das universidades que não ficaram entre as 200 melhores, deixando a USP no bloco das 201 a 250, porém, pela ordem geral, a USP deverá estar na 235ª colocação. A segunda melhor do Brasil, a Unicamp, está no bloco das 401 a 500, enquanto a terceira posição ficou para a Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal de Sergipe, e a PUC do Rio de Janeiro, todos no bloco de 601 a 800.

Confira você mesmo e saiba a metodologia empregada: Times Higher Education

Autor: Francisco Noriyuki Sato – jornalista, editor e professor de História do Japão.

Esta matéria foi publicada em 2014 e atualizada em 2021, Veja outros textos da série:

O sistema de ensino que forma um país desenvolvido – 1

O custo do ensino no Japão hoje – 2

O Japão no ranking das universidades do mundo – 3

Conhecendo uma escola colegial japonesa

Conhecendo uma outra escola colegial japonesa

Se tiver interesse em saber mais, participe da série de palestras gratuitas (on-line) sobre o tema: Ensino no Japão:

22/08/2021 – “A História da Educação no Japão”, com o professor Francisco Noriyuki Sato, presidente da Abrademi, professor de História do Japão, e autor do livro História do Japão em Mangá.

29/08/2021 – “As Escolas Brasileiras no Japão”, com os professores Alexandre Funashima e Samuel Tachibana, da Escola Alegria de Saber, do Japão.

05/09/2021 – “A Educação Atual do Japão”, com a professora Sandra Terumi Suetsugu Kawabata, da Fundação Japão de São Paulo.

MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE AS PALESTRAS

ago 052021
 

A província de Okinawa foi ocupada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos entre 1945 e 1972.

A devolução da província ao Japão aconteceu oficialmente no dia 15 de maio de 1972, após 27 anos de ocupação americana. Enquanto todo o restante do Japão voltou à administração de japoneses em 1952, o arquipélago do antigo reino de Ryukyu teve que esperar mais 20 anos, primeiro por causa da Guerra da Coreia que começou em 1950 e a posição geográfica de Okinawa tornou o local estratégico para as bases americanas. Essa guerra terminou em 1953, mas os americanos haviam investido bastante no local porque ainda previam novos conflitos na região por causa da Guerra Fria. Depois, em 1965, começou a Guerra do Vietnã, tornando o local estratégico novamente. Estima-se que, em 1969, mais de 50 mil soldados americanos moravam em Okinawa.

Com a devolução ocorrendo no dia 15 de maio de 1972, a comunidade nikkei se reuniu e realizou um evento cultural de “Comemoração pela Restituição de Okinawa ao Japão”, nos dias 20 e 21 de maio (sábado e domingo) do mesmo ano, no auditório da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, na Liberdade, em São Paulo.

A iniciativa coube ao Zaihaku Okinawa Kenjinkai (Associação dos Provincianos de Okinawa no Brasil), então presidida por Mosei Yabiku. A principal atração do evento foi uma peça de teatro, que mostrou o período de transição de quatro anos (1875 a 1879) no qual aconteceu a desocupação do Castelo de Shuri, então capital do Reino de Ryukyu. A peça, escrita por Eikichi Yamazato, artista plástico e escritor, autor de vários livros sobre a história de Okinawa, foi apresentada em japonês por um elenco de artistas radicados no Brasil.

O papel principal, do último rei Shõ Tai, coube a Naohide Urasaki, natural de Naha, capital de Okinawa, que estudou o teatro tradicional do local desde criança. Urasaki emigrou para Bolívia em 1957, onde trabalhou nas plantações de arroz e introduziu o teatro okinawano. Mudou-se para São Paulo, e novamente não ficou longe dos palcos. Junto com outros conterrâneos fundou a Kyowa Gekidan, em 1962, grupo teatral que passou a encenar o teatro de Okinawa. Em 1987, Urasaki voltou a Okinawa para se especializar no taikô, foi diplomado e começou o ensino do taikô no Brasil, onde se formou o grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko do Brasil, oficializado pelo Japão em 1998. Naohide Urasaki faleceu aos 80 anos de idade, em 2011.

A peça da história de Okinawa foi encenada duas vezes no domingo, mas o evento em si contou com várias apresentações de dança de Okinawa e do restante do Japão nos dois dias.

Em maio de 2022, a restituição da província de Okinawa estará completando 50 anos, uma data de grande significado para o Japão.

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Texto: Francisco Noriyuki Sato – Jornalista e editor, autor dos livros História do Japão em Mangá e Banzai – História da Imigração Japonesa no Brasil, e professor de História do Japão da Abrademi.

Para saber mais sobre o professor Naohide Urasaki: http://matsuridaiko-brasil.com/naohide-urasaki-sensei/

Para aprender a História do Japão, incluindo a História de Okinawa, a Abrademi tem cursos on-line: www.abrademi.com

ago 012021
 

Imperial College of Engineering na foto de 1880

No início do Período Meiji, a prioridade do Japão era recuperar o atraso tecnológico em relação às potências ocidentais, que já haviam passado pela Revolução Industrial.

Koubudaigakkou, ou Imperial College of Engineering (ICE), foi a primeira faculdade de engenharia do Japão. Fundada como parte do Ministério das Obras Públicas do governo Meiji, teve a finalidade de acelerar a industrialização do Japão no modelo ocidental. O inglês Edmund Morel, engenheiro chefe do Departamento de Ferrovias daquele Ministério, atuou como consultor durante os estudos para a implantação da faculdade, que começou a funcionar efetivamente em 1873.

Com o falecimento precoce de Morel, em novembro de 1871, o trabalho de criação dessa instituição de ensino ficou a cargo do escocês Henry Dyer, de apenas 25 anos, recém-formado na Universidade de Glasgow. O jovem Dyer era prodígio e havia recebido prêmio no seu país, sendo então indicado para essa função por um professor para Yozo Yamao, ex-samurai que ocupava o posto de diretor da divisão de engenharia do governo. Yamao havia estudado em Londres e fez treinamento técnico numa empresa construtora de navios em Glasgow.

Ocupando o cargo de reitor, Dryer criou um curso acadêmico de seis anos e um curso prático de dois anos no Imperial College. O modelo utilizado foi o da The Royal Indian Engineering College, escola estabelecida na Inglaterra, que visava formar engenheiros para trabalhar no departamento de Obras Públicas da Índia (então sob domínio inglês). Essa escola ensinava, além das matérias ligadas à engenharia, geografia e história da Índia.

O Imperial College do Japão, abrangeu, dentro do curso de engenharia, áreas como construção civil, obras públicas, mineração, navegação, energia e comunicação. Os primeiros professores foram trazidos da Inglaterra e parte das aulas era realizada inteiramente em inglês. Dentre os alunos, havia os agraciados pela bolsa do governo enquanto outros pagavam para estudar. Havia a obrigação dos bolsistas de trabalharem pelo menos durante sete anos no governo após a sua formatura. Aqui se formaram os principais engenheiros e professores, que fizeram a modernização do Japão, substituindo os professores e técnicos estrangeiros.

Em 1886, a escola seria incorporada ao curso de Engenharia da Universidade de Tokyo, formando o departamento de Engenharia. Segundo o professor Hiroshi Kida, diretor geral da Dokkyo Gakuen, essa universidade foi a pioneira no mundo a ter um departamento exclusivo de Engenharia. Mais tarde, em 1890, a mesma universidade foi a primeira a ter um departamento de Agronomia.

Quanto a Henry Dryer, ele deixou o posto de reitor em 1882, recebeu uma homenagem especial do Imperador Meiji, e retornou à Escócia onde dirigiu duas faculdades, numa das quais ele se tornou presidente, permanecendo até o seu falecimento em 1918. Foi um grande admirador do Japão, sempre mantendo contato com os japoneses, e comprou e guardou objetos artísticos do Japão, os quais seriam doados depois por seus descendentes para duas bibliotecas públicas de seu país natal.

Se tiver interesse em saber mais, participe da série de palestras gratuitas (on-line) sobre o tema: Ensino no Japão:

22/08/2021 – “A História da Educação no Japão”, com o professor Francisco Noriyuki Sato, presidente da Abrademi, professor de História do Japão, e autor do livro História do Japão em Mangá.

29/08/2021 – “As Escolas Brasileiras no Japão”, com os professores Alexandre Funashima e Samuel Tachibana, da Escola Alegria de Saber, do Japão.

05/09/2021 – “A Educação Atual do Japão”, com a professora Sandra Terumi Suetsugu Kawabata, da Fundação Japão de São Paulo.

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