jan 312019
 

Oficialmente, os japoneses se aposentam aos 65 anos de idade. Quem trabalha no Japão, sendo japonês ou estrangeiro, é cadastrado no sistema previdenciário nacional e passa a recolher um valor para o fundo de aposentadoria. Ele é composto de uma pensão nacional (Kokumin Nenkin), que paga um valor anual e igual para todos, e a pensão de bem-estar (Shakai Hoken), que varia de acordo com a renda do indivíduo.

O Kokumin Nenkin é recolhido pela empresa contratante ou indivíduo autônomo, no valor aproximado de 150 dólares por mês. Aos 65 anos, se a pessoa contribuiu durante 40 anos, passará a receber, uma vez por ano, cerca de 7.500 dólares. O valor será menor se o tempo de contribuição for menor.
Para o Shakai Hoken, o valor da contribuição mensal é de cerca de 18% da remuneração atual, sendo metade paga pelo empregador e a outra metade pelo indivíduo. Quando o trabalhador completa 65 anos de idade, passa a receber, além do Kokumin Nenkin, esse benefício como complemento da aposentadoria. Essas pensões são pagas também em caso de invalidez ou falecimento do segurado.

Para quem está aposentado hoje no Japão, que trabalhou a vida toda numa grande empresa, o valor das pensões deve ser suficiente para se viver bem. Mesmo levando-se em conta o aumento do imposto sobre mercadorias (que era de 5%, subiu para 8% e deverá chegar em breve para 10%), que elevou o custo de vida, mas não aumentou a renda dos aposentados, a renda dessa pessoa é considerada muito boa. Esses aposentados vivem bem, e constituem uma boa parcela dos turistas do país, aqueles que vão a estâncias climáticas e visitam cidades históricas. Eles representam mais de 43% de todos os turistas japoneses.

Os japoneses calculam que, após o fim da bolha econômica, nos anos 1990, os empregos vitalícios ficaram cada vez mais raros, e só uma parcela da população conseguiu recolher valores elevados para o fundo de aposentadoria, ou fez investimentos que hoje proporcionam renda.
Ou seja, muitos dos que esperam conseguir aposentadoria nos próximos anos deverão se contentar com uma renda baixa se comparada com a geração dos seus pais.

Mais de 90% das pessoas concluem o curso colegial e mais de 40% concluem o curso superior entre os japoneses. Mesmo esses mais estudados não podem ter certeza se estarão empregados num futuro próximo. Isso faz com que muitos jovens não mais procurem um emprego fixo. Preferem fazer trabalhos temporários, num restaurante, por exemplo, recebendo por hora e sem terem um compromisso com a empresa. Largam o trabalho para viajar, e quando voltam procuram outro serviço. Assim consegue-se viver hoje, mas como não contribuem para o sistema previdenciário, não terão nenhuma assistência e nem uma aposentadoria.

Outro grande problema é a diminuição da população jovem. Com os custos elevados da educação, muitos casais preferem não ter filhos ou se contentam em ter apenas um. Isso faz com que a pirâmide social fique invertida, inviabilizando a própria previdência, se medidas radicais não forem tomadas. Em 2012,  população com mais de 65 anos era de 30,3 milhões de pessoas, ou seja, 24,2% do total da população. Já a população de 0 a 29 anos de idade representava 34,7 milhões de pessoas, ou 27,5% do total. Se mantido o atual ritmo, o Japão terá em 2050, 50% da população ativa e 50% inativa.

Para melhorar essa difícil conta, o governo japonês vem tomando, desde 2000, uma série de medidas que achataram o valor dos novos benefícios e aumentaram o valor dos recolhimentos. Outra grande mudança foi na idade para se aposentar, que foi elevada de 60 para 65 anos.

A existência de tantos idosos requer estruturas próprias e serviços de apoio no caso deles viverem separados dos filhos ou netos. Na tentativa de tratar a necessidade de assistência dessas pessoas, em 1997 a Assembleia Legislativa do Japão (Dieta) aprovou a Lei sobre Seguro Assistencial de Longo Prazo, que levou à criação do sistema de seguro assistência ao idoso em 2000. Esse sistema recolhe contribuições previdenciárias obrigatórias de uma ampla parcela da população (todas as pessoas com 40 anos ou mais) e fornece serviços como atendimento em domicílio a idosos, visitas a centros de assistência, ou permanências de longo prazo em casas de repouso para pessoas que sofrem de demência senil ou estão confinadas à cama por motivos de saúde.

A necessidade de se recorrer a esses serviços deve ser certificada pelos escritórios das cidades, municípios e povoados responsáveis por administrar o sistema de seguro assistência para idosos. O financiamento do sistema de seguro de assistência ao idoso do Japão conta com fundos dos governos nacional (25%), local (12,5%), distrital (12,5%), e das contribuições previdenciárias (50%).

Assistência Médica não é gratuita

Em 2009, as despesas com os idosos representavam um terço do total gasto pelo governo em assistência médica. Os gastos com pessoas com 75 anos ou mais, em média, são cinco vezes mais elevados do que com os adultos com menos de 65 anos. Todos os cidadãos japoneses estão inscritos no sistema nacional de saúde e têm direito ao “sistema de acesso livre”, que permite aos pacientes escolher os locais de atendimento de sua preferência.

Nesses hospitais, clínicas, laboratórios, consultórios médicos e dentários, o segurado deverá pagar sempre uma parte do seu tratamento. Aqueles com 75 anos ou mais devem pagar apenas 10% do total gasto, ficando o restante a cargo da seguridade social. Quem tem entre 70 e 74 anos contribui com 20%, e aqueles com até 69 anos de idade devem pagar 30% do valor gasto. Quem, apesar de estar aposentado, tiver uma receita comparável a uma pessoa ativa, deverá contribuir com 30% da despesa, como um trabalhador normal. A aquisição de remédios indicados pelos médicos também entram nessa conta, e os beneficiários pagam apenas uma parcela dos custos dos remédios, seguindo a mesma proporção do restante do tratamento. No caso de medicamentos considerados extremamente caros, o governo arca com a totalidade do seu preço.

Evidentemente, o governo precisa desembolsar uma parte dos custos médicos do seu orçamento anual, porque o valor recolhido dos contribuintes não é suficiente para pagar todas as despesas. E se discute se o governo deveria mesmo continuar pagando os remédios caríssimos, já que esses só beneficiam uma minoria. Entretanto, o sistema tem funcionado a contento, oferecendo bons serviços a custos relativamente baixos. Levantamentos recentes indicam que o custo médico do japonês é em média a metade do norte-americano.

A qualidade da assistência médica contribui para a longevidade. Levantamentos mostram que a população do mundo vivia bem menos na década de 1950. Estatísticas dão conta que a média era de apenas 48 anos de idade. O índice é baixo porque a mortalidade infantil era elevada. Em 2010, graças ao avanço da medicina, essa média mundial havia subido para 67,2 anos.

A expectativa de vida do japonês é a mais altoa do mundo, segundo a World Health Organization, num levantamento entre 183 países realizado em 2015. As mulheres devem viver em média até 86,8 anos e os homens até 80,5 anos no Japão. A população idosa é maior nas áreas rurais, pois os jovens saem para estudar e trabalhar nas cidades maiores. Hoje, nos arrozais que encontramos em todo o Japão, é comum avistar apenas idosos cuidando da plantação. Os equipamentos facilitam, e aqueles que se encontram com mais saúde não se importam com o trabalho na roça, já que estão acostumados.
O Brasil figura no 67º lugar dessa lista internacional, com expectativa média de 78,7 anos para as mulheres e de 71,4 nos para os homens. O último lugar da lista é ocupado por Serra Leoa, país africano de quase 6 milhões de habitantes. Lá, a mulher espera  viver 50,8 anos e o homem apenas 49,3 anos.

Um novo conceito em condomínio de idosos: Share Kanazawa

Autor: Francisco Noriyuki Sato / NSP Editora – escrito em Julho/2016.

jan 252019
 

Uma sala de aula somente com estudantes estrangeiros na Universidade de Kanazawa © NSP Editora

Boas e disputadas universidades. Mas isso não é mais garantia de um bom emprego.

Apesar de toda essa pressão sobre o aluno, o nível geral das universidades japonesas está caindo na média internacional. O levantamento “World University Rankings” lista as 980 melhores universidades do mundo. Até 2014, a Universidade de Tóquio se manteve em 23º lugar, sendo considerada a melhor da Ásia. Em 2016, a mesma universidade despencou para a 39ª colocação, sendo superada pela Universidade Nacional de Cingapura e duas chinesas.

Outras universidades japonesas aparecem em posições inferiores e, mesmo assim, estão bem. Basta comparar com a Universidade de São Paulo, que com mais de 80 mil estudantes, é a melhor posicionada na América Latina. A USP está entre a colocação 251 e 300, na lista liderada pela inglesa Oxford.

No país onde o ensino é levado a sério, críticos afirmam que, apesar dos rigorosos exames para se entrar numa universidade japonesa, depois de aprovados os alunos se sentem no paraíso. Ou seja, falta um exame rigoroso para diplomar os universitários e por isso, estudando ou não, todos serão aprovados. Mais uma vez, na área de exatas, onde há experiências em laboratório e atividades experimentais, os alunos tendem a se esforçar mais. Os universitários japoneses, embora sejam os campeões em matemática e ciências exatas, não apresentam bons resultados nas áreas de humanas e linguística, se comparados com os de outros países desenvolvidos. Além disso, estudiosos do exterior afirmam que o sistema de ensino japonês não desenvolve o espírito crítico dos estudantes. Talvez isso nem fosse necessário numa época de economia estável.

Sem uniforme e com horários mais flexíveis, as universidades parecem ideais para incentivar a criatividade. Entretanto, as aulas costumam ser expositivas © NSP Editora

Até o final da bolha econômica, por volta do final dos anos 90, todos os universitários tinham certeza de conseguir emprego. As grandes empresas contratavam os alunos das melhores universidades antes mesmo de se formarem. Não importava a área de formação. A partir do momento em que eram contratados, recebiam treinamento e ocupavam uma função, faziam carreira e ficavam na mesma empresa até se aposentarem. Hoje tudo mudou, muitos com formação superior não chegam a ter o primeiro emprego, e assim, sobrevivem às custas de trabalhos temporários, que são relativamente bem remunerados.

Embora todos os japoneses continuem investindo alto na educação formal de seus filhos, o resultado final não tem sido animador para os recém-formados.

Por outro lado, na última década, as universidades japonesas têm investido em trazer alunos estrangeiros para suas salas. Fenômeno da globalização? Na verdade não. É que a população japonesa vem diminuindo num ritmo acelerado e isso reflete também no número de alunos matriculados. As vagas que sobram são preenchidas pelos estrangeiros. Como existe a barreira do idioma, as universidades aceitam alunos com domínio do inglês e com um nível razoável de comunicação em japonês. Há aulas intensivas de japonês especialmente para esses alunos poderem acompanhar as aulas.

Felizmente, o Japão tem sido atraente para muitos estudantes estrangeiros. Hoje, em certas universidades, 20% dos alunos não são japoneses.

Autor: Francisco Noriyuki Sato

Leia os textos anteriores:
O sistema de ensino que forma um país desenvolvido – 1
O custo do ensino no Japão hoje – 2

Conhecendo uma escola colegial japonesa
Conhecendo uma outra escola colegial japonesa

jan 242019
 

O custo alto do ensino faz com que os pais tenham menos filhos

A tradicional indústria Kanko, que existe desde 1854, e é especializada em fabricar uniformes escolares, apresenta sua coleção: Casaco de malha, camisa branca, saia e o sapato totalizam US$ 320 © Kanko

Há muitos anos, é obrigação de todos os cidadãos cursarem o ensino primário, de seis anos, e o ginasial, de três, totalizando nove anos de ensino obrigatório. Esse ensino é gratuito nas escolas públicas, onde também recebe os livros escolares. Mas as despesas com refeições, transporte, atividades extra-curriculares, como judô, excursões e uniforme, são pagas pelos pais. E não é barato. Em uma escola primária pública, se paga em média US$ 850 no ato da matrícula (só uma vez em seis anos), mais os gastos que somam US$ 2,5 mil por ano. Continuando na escola pública, nos três anos seguintes, a matrícula será também de US$ 850, mas os gastos anuais sobem para US$ 3.750. Se a opção for por uma escola particular, o custo será de US$ 2,5 mil de matrícula e mais US$ 10 mil anuais nos seis anos do primário e também nos três anos do secundário básico (ginasial).

A malinha de couro, conhecida como “randoseru”, pode custar US$ 1,4 mil dependendo da marca. As aulas começam em abril, mas os modelos de US$ 600 já estavam esgotados em dezembro

O custo não muda muito no nível colegial: US$ 1,6 mil de matrícula (só uma vez para os três anos) e gasto anual de cerca de US$ 4,2 mil em escola pública e US$ 3,3 mil de matrícula e US$ 8,7 mil por ano na escola privada. O curso colegial, embora não seja obrigatório, é concluído por 98% da população, o que deve ser a taxa mais elevada do mundo.

Já o aluno que frequenta uma universidade pública nacional precisa desembolsar cerca de US$ 2,5 mil de matrícula (uma vez apenas) e US$ 4,2 mil  por ano, independente do curso escolhido. Em uma universidade privada, esse custo será bem maior. Cerca de US$ 2,5 mil de matrícula e US$ 7,5 mil por ano, se optar pela área de Humanas. Na área de Exatas, o custo é maior: US$ 9,2 mil de matrícula e US$ 10 mil por ano. Na área de medicina, o custo é ainda maior: US$ 16 mil de matrícula e US$ 31 mil por ano. O curso de medicina ainda tem a desvantagem de ser mais longa, com seis anos para se formar.

Uniformes com grife são evidentemente mais caros. Esse blazer tem a assinatura Elle e custa US$ 200. A saia da mesma marca custa US$140 © Elle

Com isso, é possível entender a pressão dos estudantes em alcançar uma universidade pública. Como a concorrência é muito grande, é necessário estudar muito, frequentando cursos de reforço fora do horário escolar. E isso também custa caro, em geral, de US$ 350 a US$ 500 por mês. Calcula-se que metade dos estudantes do segundo ano colegial esteja frequentando esses cursos de reforço. Há cursos preparatórios para entrar no ginásio e também para o colégio. Bons ginásios e colégios preparam melhor o aluno para os exames vestibulares, acreditam os pais.

Os pais começam a economizar desde o nascimento do filho, para ter uma disponibilidade financeira para pagar as escolas. Na época da bolha econômica, isso parece não ter sido um problema, mas hoje, eles encontram dificuldades. Isso também explica porque os pais não querem ter filhos. Assim, apesar da longevidade dos idosos, a população japonesa diminuiu quase 2 milhões em apenas nove anos.

Autor: Francisco Noriyuki Sato

Leia também:

O sistema de ensino que forma um país desenvolvido – 1

O ranking do Japão entre as universidades do mundo – 3

jan 232019
 

Mesmo num passeio no final de semana, sendo uma atividade promovida pela escola, o uso do uniforme é obrigatório © Rage Z

Considerado um dos melhores do mundo, o sistema educacional japonês sofre rigorosas críticas dentro de seu próprio país. Mas é inegável que, mesmo sem ser perfeito, sempre atendeu as necessidades de seu povo, que é obcecado em querer que seus filhos estudem, elegendo a educação como prioridade da família.

O sistema de ensino nos padrões ocidentais adotado no Japão tem menos de 150 anos. Antes disso, porém, já havia o ensino que ficava por conta dos “terakoyá”, escolas de templos budistas, e “juku”, cursos particulares. O primeiro ensinava a ler, a escrever, e o ábaco (soroban), além de ensinamentos budistas. O “juku”, em geral, ensinava a ler e a escrever, mas se dedicava a outras matérias, como geografia, matemática, etiqueta e conhecimentos gerais.

Havia também “juku” especializado em cursos práticos para o trabalho, algo parecido com a escola técnica. Conta-se que em 1867 haviam 75 mil “terakoya” e 6,5 mil “juku” registrados no país, o que demonstra o grande interesse pelos estudos, mesmo em uma época em que o transporte era precário. Cinco anos depois, foi adotado o ensino no estilo francês e as principais universidades foram criadas a partir dessa data, como a Universidade de Tóquio, construída em 1877.

É interessante notar que a preocupação do país era de se equiparar às potências internacionais, pois ficara mais de dois séculos sem contato com o exterior, que já alavancava o progresso com máquinas a vapor e trens. O Japão precisava alcançar o desenvolvimento tecnológico do Ocidente e, por isso, renomados professores foram trazidos do exterior para as faculdades. Nessa época valorizou-se o ensino de engenharia, química, física e medicina, fato que se reflete até hoje. O Japão tem 26 laureados com o Prêmio Nobel, e dentre esses, 23 venceram nessas matérias.

As crianças vão sempre a pé para suas escolas e sem os pais © John Gillespie

O funcionamento da escola

Crianças entre 3 anos completos e 6 anos podem frequentar o jardim da infância. Aos 6 anos podem ingressar no ensino básico, de seis anos. Depois, o ensino intermediário, de três anos, que corresponde ao antigo curso ginasial no Brasil. Os ensinos básico e o intermediário são obrigatórios para o japonês. Se alguma criança com menos de 15 anos estiver na rua no horário das aulas, cabe ao policial perguntar o motivo e procurar seus pais. Dos 15 aos 18 anos, estarão frequentando o ensino médio, que pode ser normal ou profissionalizante.

O ano letivo no Japão começa no início de abril. No ensino básico, as salas têm de 30 a 40 alunos. Nos dias de semana, as aulas normalmente começam às 8h30 e terminam às 15h50. No primário, as aulas duram 45 minutos, com uma pausa de 10 minutos entre uma aula e outra. A partir do ginásio, elas duram 50 minutos. Oficialmente há 35 semanas de aula por ano.

Há nove matérias regulares no ensino básico japonês: língua japonesa, estudos sociais, matemática, ciência, estudos ambientais, música, arte e artesanato, conhecimentos domésticos, educação física e economia doméstica. Nessa última, os alunos aprendem a cozinhar coisas simples e fazer algumas costuras. A maioria das escolas ministra aulas de inglês, shodô (caligrafia) e haiku (poesia curta).

Apesar do ensino seguir o mesmo padrão em todo o território japonês, há algumas pequenas variações. No colégio Nisui, como praticamente em todas as outras, as aulas começam às 8h30 e continuam até 16h30. Depois, começam as atividades chamadas de “club”, que são as extracurriculares, como as esportivas de tênis, beisebol, badminton, equitação e tênis de mesa, e culturais, como culinária, jornalismo, shodô e coral. Essas atividades duram duas horas em média.

Para se ingressar nas melhores universidades é preciso fazer o curso preparatório, que vai das 19 às 22 horas, diariamente. Tempo para jogar game, assistir animê e entrar no Facebook? Muito pouco, pois os jovens precisam fazer as lições de casa. “Vocês assistem animê?”, perguntou uma estudante inglesa fazendo intercâmbio no Japão a uma colega japonesa. “Eu assistia quando era criança, mas não tenho mais tempo”, respondeu a menina de 15 anos. Nos finais de semana também há atividades dentro da escola e fora dela, por isso é comum ver estudantes uniformizados nas ruas, mesmo aos domingos.

Ocorreram algumas reformas de ensino nas últimas décadas e em 2002 aconteceu uma mudança maior, que resultou na eliminação das aulas aos sábados (até 1990, o aluno japonês tinha 240 dias letivos, contra 180 dos americanos), para diminuir a pressão sobre os estudantes do colegial. Uma matéria nova foi introduzida no 2° e no 3° anos. É o “Sogo”, que pode ser traduzido como “estudos integrados”. Aqui, o assunto depende do interesse de cada um, e não tem a ver com as matérias exigidas nos exames vestibulares, mas são e serão importantes na vida de todos. Exemplos: meio-ambiente, globalização e tecnologia da informação. Algo semelhante está para ser introduzido também no Brasil.

As próprias crianças servem o almoço © Anabelle Orozco

Todo o mundo já deve ter visto um vídeo onde as crianças limpam a escola. De fato, desde cedo elas aprendem a manter as salas limpas e a tarefa continua até o final do ensino médio. Na verdade, não há muita sujeira para limpar. As crianças e também os funcionários e professores guardam seus sapatos no armário logo na entrada e vão para as salas com um calçado que é usado somente dentro da escola. A limpeza é feita por revezamento entre os alunos, que levam menos de 15 minutos para a tarefa. Eles consideram a limpeza um fato natural. Já que utilizam o local, consideram óbvio limpar e deixar o ambiente pronto para a próxima aula ou turma. Antes deles, os seus pais e avós também fizeram o mesmo.

Outro fato que chama a atenção é o almoço servido pelos próprios alunos. Uma funcionária traz o carrinho com a comida da cozinha e as crianças já se posicionam para servir os colegas. Cada uma delas já sabe onde, o que e como deverá servir. No final da refeição, a arrumação do local também é feita pelos alunos. No caso de escolas com poucos alunos, cada um traz a sua marmita (obentô) e ela é saboreada na sua própria carteira.

Sabe-se que de todos esses estudantes colegiais, cerca de 53% irão disputar vagas em 220 faculdades públicas e 500 particulares. E outros 18% irão para escolas especializadas ou faculdades de curta duração (de dois anos).

Outra função da escola

Sendo um país que coleciona desastres naturais, há uma grande preocupação de todos no Japão quanto à segurança. A direção das escolas recomenda que todos os alunos optem por estudar próximos das suas casas, principalmente no ensino básico. Isso porque a escola rapidamente é transformada em local de refúgio em caso de desastres naturais. No caso da região ficar inundada e sem os transportes públicos, todos saberão onde procurar seus familiares.

Sendo a escola pública ou particular, a maioria vai a pé ou de bicicleta. Crianças maiores poderão ir de trem ou metrô, pois a distância pode aumentar pela opção por melhores escolas. Mesmo assim, ninguém leva o filho em carro particular ou perua contratada. As crianças menores vão juntas, sendo que a que mora mais longe passa na casa das colegas. Há um traçado para ir à escola, e fazem sempre o mesmo trajeto.

Autor: Francisco Noriyuki Sato – jornalista e editor

Veja a continuação:

O custo do ensino no Japão hoje – 2

O Japão no ranking das universidades do mundo – 3

Conhecendo uma escola colegial japonesa

Conhecendo uma outra escola colegial japonesa

jul 242018
 

Esse vídeo faz muito mais sucesso do que o vídeo oficial das Olimpíadas Tokyo 2020. Tokyo Bon 2020 (Makudonarudo) é uma mistura de ritmo e instrumentos tradicionais japoneses com o bom humor do estrangeiro, que ao pedir informações sobre restaurantes em Tóquio, se depara com palavras em inglês com pronúncia bem estranha: o “japanglish”. Quem já foi ao Japão sabe bem o que é isso. “Dizunilando” é Disneyland, “Kitto Katto” é Kit-Kat e “Makudonarudo” é Mc Donalds. Essas e muitas outras palavras formam a incrível letra de Tokyo Bon 2020 apresentadas pelo compositor e cantor Namewee, e a atriz e cantora japonesa Meu Ninomiya. A produção teve a participação do grupo Cool Japan TV. Em apenas dois dias, em novembro de 2017, esse vídeo atingiu a marca de 12 milhões de visualizações. Agora já ultrapassa 31 milhões, o que é um fenômeno mundial.

Namewee, nasceu na Malásia com o nome de Wee Meng Chee, de família originária do Sul da China, e se formou em Taiwan. Seu primeiro sucesso representou problemas para o artista. Em seu vídeo “I love country Negarakuku”, que seria um tema para apresentar Malásia para os turistas, ele abordou temas como a corrupção policial, serviços públicos ineficientes e políticas governamentais equivocadas, citando também as práticas muçulmanas (num país cuja maioria segue essa religião). Logo ele recebeu críticas, por falar mal do seu país e pela baixa qualidade do vídeo, feito com montagens de fotos e outros vídeos. Embora tenha tirado do ar e pedido desculpas em público, recebeu um processo do Ministério da Informação de seu país. Não foi preso por isso, por morar fora do país, mas as emissoras de rádio e tv locais pararam de exibir aquele trabalho. Por um outro trabalho crítico, chegou a ser preso na Malásia em 2016. Namewee compõe músicas  e produz filmes, atuando principalmente em Singapura, Taiwan e Coreia do Sul, tendo já conquistado vários prêmios na Ásia.

A atriz Meu (leia Me-u) Ninomiya (二宮芽生), apesar de jovem (nasceu em 1992) é uma artista experiente. Já protagonizou vários filmes, como “1000 years Princess”, com o qual venceu o prêmio de melhor atriz revelação no Festival de Cinema da Ásia, no ano passado, em Taiwan. Ela nasceu em Okinawa, no Japão, mas como seu pai é professor de artes, se mudou várias vezes, morou na infância na Alemanha e Austrália, e terminou seus estudos em Yokohama, e fala o alemão.

Tokyo Bon 2020 – Makudonarudo

Ohayo Tokyo Konichiwa
Sumimasen I’m foreigner
I don’t speak Japanese
But I love Aoi Sora
When you say Wakarimashita
I say Hitachi Toyota
Kawasaki Nintendo
Canon Sony Honda

I’m losing my way
Obasan where should I go?
Shinjuku so big
I need a Doraemon
You speak Japanglish
And show me body language
What can I do?
Where should I go? No nonono

Makudonarudo
(McDonald)
Guguru Toiletto
(Google toilet)
Kitto Katto
(Kit Kat)
Dizunilando
(Disneyland)
Takushi go Hoteru
(Taxi go Hotel)
Sebun Elebun Miruku
(7-11, Milk)
Basu Biru
(Bus, Beer)
Sutabakkusu
(Starbucks)